quarta-feira, maio 29, 2024

A vida não cabe "debaixo do tapete"...


Ouvia o Mário e pensava no meu Pai.

Ele também era assim. Não se esquecia nem escondia as dificuldades - e até a fome que passou - durante os anos da Guerra Civil de Espanha e da Segunda Guerra Mundial, na pequena aldeia onde nasceu na Beira Baixa.

Não falava disso com orgulho, mas achava que era importante para nós, filhos, sabermos que a vida não era apenas aquela que vivíamos, sem privações. Até porque continuava a existir muita gente espalhada pelo mundo, que passava mal...

Quem não gostava nada de ouvir as histórias de infância do pai eram os seus irmãos. Ele por ser mais velho, passou mais dificuldades que todos os outros, mas a vida nas beiras não foi fácil para nenhum deles. Mas o que o Pai queria lembrar, eles queriam esquecer...

O Pai não era daquele mundo "de faz de conta", não era capaz de enfeitar a miséria, muito menos de dizer que "havia quase tudo", onde "faltava quase tudo".

Sinto-me feliz de ser do "clube" do Pai e do Mário.

(Fotografia de Luís Eme - Serra da Estrela)


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