Estava enganado. E foi um pouco difícil trazer um leitor à razão. Até lhe ofereci o meu exemplo pessoal, de quando um herdeiro de uma das famílias do Estado Novo, orgulhosamente salazarista (como o provava o quadro de generosas dimensões que ornamentava uma das paredes do seu escritório...), depois de ler um dos meus livros sobre a história de Cacilhas, disse que era "um livro comunista". Claro que não era um livro comunista, mas era um livro progressista, que assinalava o papel da Revolução de Abril na melhoria das condições de vida das pessoas, ao mesmo tempo que apontava o dedo às muitas tropelias protagonizadas pela PIDE no Concelho de Almada.
O que lhe fez mais confusão, foi eu dizer-lhe que a interpretação dos factos depende sempre do nosso olhar, do meio onde crescemos e da educação que recebemos. É por isso que é possível fazer interpretações diferentes do mesmo facto, especialmente quando existem algumas "pontas soltas". Isto não quer dizer que os historiadores não se cinjam aos factos e não sejam honestos. Há sempre uma variante ideológica, por muito independentes que julguemos ser.
Se existir um historiador que admire o Salazar, por isto ou por aquilo, quando estiver a escrever sobre ele, haverá alturas que em lhe irá despir a "camisa de vilão" e tentará humanizá-lo, o que nem é muito difícil de fazer, porque todos nós temos um lado bom e um lado mau...
Era esta parte que lhe fazia confusão. Ele não aceitava que o ensaísta que tentava transformar o Ditador num ser humano, fosse honesto.
E tivemos mesmo que arrumar as "violas", percebemos que nunca iríamos "tocar" com acerto e harmonia...
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)
Quem parece estar a querer humanizar o Estado Novo e os seus governantes é o actual Governo com gente mentirosa, indigna, corrupta e absolutamente vergonhosa -a gestão da TAP é um exemplo disso.
ResponderEliminarO que se está a passar e absolutamente miserável!
É verdade, Severino. Até parecem estar a pedir ao Marcelo para correr com eles...
EliminarSerá difícil qualquer escritora ou escritor manter-se neutra/o.
ResponderEliminarClaro que sim, Catarina.
EliminarO importante é não deturpar os factos, procurar sempre a verdade...
Como seria, se os poemas, os livros de José Saramago – apenas como exemplo - não tivessem dentro de si a ideologia e a visão social e política que sempre lhe marcaram a vida?
ResponderEliminarMas eu falava mais em história e historiadores, Sammy.
EliminarNo domínio da ficção e da poesia há (ou havia, parece que há novos censores) espaço para quase tudo...