segunda-feira, abril 03, 2023

«Convém não te esqueceres, que não te livras deles nas passadeiras...»


Um amigo quase a entrar na fase em que é necessário um atestado médico anual para comprovar que ainda estás na posse das tuas faculdades para conduzir decidiu, que assim que o seu carro achar que já chegou ao fim o seu "tempo de vida", não vai comprar outro.

Assumiu que é cada vez mais "condutor de domingo", que a sua viatura há já algum tempo que deixou de ser um "bem necessário" no seu dia a dia. Só tem pena que os transportes deixem tanto a desejar e que se façam tantas greves (tem lhe calhado sempre a "fava", quando precisa de ir a Lisboa...).

Mas o motivo principal para esta tomada de decisão, é o facto de a condução ter deixado de ser um prazer. Irrita-o cada vez mais que se buzine e se grite por tudo e por nada nas estradas. Houve uma frase que ele disse, mais forte que as outras: «Parece que anda tudo doido e apressado, é quase como se estivessem a querer fugir de alguma coisa.»

O Rui disse que talvez quisessem fugir das estradas movimentadas, o mais rapidamente possível... 

Sorrimos, mesmo que o caso não fosse para rir. Quem conduz, sabe que as estradas são um dos melhores indicadores do estado psicológico (e até psiquiátrico...) dos habitantes de um país. E sim, parece que "anda tudo doido"...

Foi quando o Rui, com o seu humor menos claro, insistiu em lembrar-lhe que não é por deixarmos de conduzir que nos livramos dos carros. «Convém não te esqueceres, que não te livras deles nas passadeiras...»

Voltámos todos a sorrir. Provavelmente já todos deveríamos ter passado por uma ou outra situação perigosa, em qualquer passadeira, recebendo inclusive uma buzinadela de "presente", por passarmos para o outro lado da estrada, no local certo...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


6 comentários:

  1. Há pessoas que ao volante de um automóvel ficam possessas e parecem querer ser donas do mundo; os olhos fora das órbitas, os braços no ar, a pressa de chegar a lado nenhum, enfim algo que dá que pensar.
    O mundo actual, o dinheiro, a ambição desmedida, moldou a quase grande totalidade das pessoas de um egoísmo atroz, é o querer mais sempre mais de uma forma desmedida.
    Entretanto, em vez de se querer parar a guerra, tentando conversações, inclui -se a Finlândia na NATO (uma provocação que, nesta altura, em nada contribui para a paz).

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    1. Poderá ter a ver com o sistema nervoso de cada um de nós, Severino.

      Embora muitas vezes pareça ser um espaço de afirmação do "velho macho": aqui quem manda sou eu, não gostas levas.

      Em qualquer guerra, há sempre dois lados...

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  2. Esta publicação faz-me lembrar da “terra sem lei” e do “salve-se quem puder”. : )
    Nós “respeitamos” muito as nossas buzinas. Só as utilizamos quando é absolutamente necessário em situação de possível perigo ou para recordar ao condutor da frente que ponha o seu telemóvel de lado porque a luz verde já apareceu.
    Cheguei a mencionar que se passam semanas e semanas sem ouvir um buzinadela. Bons hábitos que aqui temos. : ) As passadeiras também são respeitadas a não ser que o condutor esteja distraído o que, felizmente, não é frequente. Mas nos últimos anos tem acontecido muitos atropelos. As pessoas usam roupas escuras, principalmente casacos e à noite, algumas atravessam a rua sem ser na passadeira e não dão tempo para os carros pararem a tempo.

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    1. Por cá buzina-se muito, Catarina.

      E não é por se gostar de música. Há quem a use de uma forma provocatória, outros para chamarem a atenção da aselhice alheia que coloca em perigo quem circula na estrada, outros para avisarem qualquer anomalia.

      Há gente tresloucada que nem as passadeiras respeita, muito menos os peões.

      E para te dar um exemplo de "dois em um", já me buzinaram quando estava a atravessar a passadeira, e mais que uma vez...

      E não me venham com a conversa de sermos latinos, não temos é civismo nem respeito pelo próximo.

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    2. Maus hábitos que ainda não foram erradicados. É como o estacionamento. Alguma vez iríamos estacionar em cima de um passeio ou em qualquer outro lugar que fizesse com que os pedestres tivessem que se desviar do passeio?! Por civismo não se faz e porque as multas são grandes e os polícias estão sempre atentos. E as árvores que se encontram mesmo no meio dos passeios que por vezes não deixam espaço suficiente para um carrinho de bebé passar em segurança? Mau planeamento das câmaras. : ))

      Quanto às buzinadelas, bem me recordo da barulheira das buzinas quando vivia em Lisboa. Motoristas com janelas abertas a gritarem a outros motoristas, gestos de dedos. : ))) Toda a gente buzinava a toda a gente.
      Recordo-me de um ano, quando estava a passar férias em Portugal, ter levado os meus filhos (pré-adolescentes na altura) a Sintra. Fomos de táxi até ao Palácio. Não me recordo o que motivou o motorista abrir a janela e gritar “Ó seu caramelo”. O meu filho não compreendeu nem a expressão, nem o motivo por que ele tinha gritado à pessoa. Nunca mais se esqueceu da expressão. : )
      Quando fui pela primeira vez à Colúmbia Britânica visitar a minha filha (que vive numa cidade pequena) confirmei o que ela me vinha dizendo... que o carros paravam para as pessoas atravessarem a estrada mesmo sem passadeira. Tantas vezes me aconteceu. Talvez também porque viam que estávamos com uma criança. A cidade é tão pequena (12 mil habitantes) que quando há meia dúzia de carros na estrada já consideram um engarrafamento. : ))

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    3. Temos muito a aprender em matéria de civismo e respeito dos direitos humanos, Catarina...

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