É desta forma que entendo o que o meu vizinho do rés de chão me disse (sem que eu lhe perguntasse...) que tinha votado no Chega. Disse-o com um sorriso provocatório. Apenas exclamei quase em jeito de interrogação: "Sério?!"
Continuou a sorrir. Percebi que sim. Dissemos mais duas ou três palavras de circunstância e depois cada um de nós foi à sua vidinha.
Fiquei a pensar no episódio. Ele disse-me algo que nunca me dissera. Algo que eu nunca lhe perguntaria. E somos vizinhos há mais de trinta anos. Embora eu também possa dizer em que partido votei, mas nunca o farei com um sorriso provocatório, nem sem que me perguntem. Mas, claro que nunca o direi a toda a gente.
O que para mim é claro, é que hoje se respeita menos a individualidade de cada um de nós (também por culpa própria, parece que não conseguimos, ou não queremos perceber, o que é da esfera privada e o que é da esfera pública...).
Ou seja, temos menos de liberdade de sermos, falarmos e até de pensarmos o que queremos, muitas vezes por vontade própria.
E isto é agravado por uma vontade de querer "castrar" os outros - mesmo sem se recorrer a químicos -, quando sabem que pensam de forma diferente.
E isso é cada vez mais perigoso para a democracia.
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)
Parafraseando José Régio, há coisas que tenho pudor de contar seja a quem for!
ResponderEliminarDizer em quem votei não faz parte dessa lista!
Abraço
O "votar" foi o pretexto para falar desta coisa que mina a vida em sociedade, roubando-nos a liberdade e a intimidade, Rosa...
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