O aparecimento das televisões privadas limitou-se a dar um primeiro "safanão", no que se considerava até aí, ser o jornalismo independente.
A aposta em tornar tudo num espectáculo, até mesmo os espaços de notícias, mudou a forma de informar. Ao ponto do director de um dos canais (Emídio Rangel) dar a entender que a sua televisão poderia ser determinante na escolha do Presidente da República, com uma conversa sobre "sabonetes"...
Depois também passou a ser moda comprar e vender jornais e revistas, com vários empresários, nacionais e africanos, a investirem na imprensa. Embora se duvidasse das suas verdadeiras intenções, nunca se levantaram grandes ondas. Quase toda a gente, inclusive os jornalistas, fingiu estar distraída, com este novo rumo do jornalismo, que foi trazendo ao mesmo tempo para as suas direcções, gente cada vez mais inclinada para o lado direito, que por sua vez, também começaram a convidar para cronistas e comentadores, amigos com as mesmas ideias políticas e com a capacidade de dizer uma coisa hoje, e o contrário, no dia seguinte.
Quase que podemos dizer que a imprensa apenas se limitou a imitar as televisões, onde hoje, mais de dois terços dos seus comentadores são próximos dos partidos de direita. Existe ainda a "curiosidade" do espaço de comentário político de domingo - mais longo -, ter como protagonistas Paulo Portas (CDS) na TVI e Marques Mendes (PSD) na SIC, que nem sequer se dão ao trabalho de disfarçar ao que vêm. Isso acontece há mais de meia-dúzia de anos, sem que alguém do PS demonstrasse desagrado (vá-se lá saber porquê)...
Foi desta forma que chegámos a 2024, com um jornalismo cada vez menos livre e menos credível. E com as redacções a trabalharem com cada vez menos condições materiais e humanas...
(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)
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