Por questões que se prendiam com as personalidades e com o carácter de cada um, viviam quase sempre oposição, neste nosso "teatro da vida" diário. Mesmo nas conversas mais simples sobre coisas pequeninas, "disparavam" sempre em sentido contrário um do outro.
Não sei se foi por serem do tempo em que quase todos os homens tinham uma alcunha, que decidiram "baptizarem-se" um ao outro, com nomes que lhe faziam alguma justiça. Se o Jorge, por mudar de ideias quase com a mesma velocidade com que mudava de camisa e roupa interior, passou a tratado pelo "Salta-Pocinhas", o Alfredo, por ser bastante teimoso nas suas coerências, passou a ser o "Rapaz das Orelhas Grandes" (o Jorge adorava utilizar o argumentário de que "só os burros é que não mudam", muito utilizado por todos aqueles que fazem quase contorcionismo com a coluna vertebral e gostam pouco de ideias fixas, como era o seu caso...).
Onde estavam mais em desacordo era no campo político. O Jorge ao longo dos anos conseguiu "viajar" da extrema-esquerda até ao PSD, com uma paragem breve pelo PS, enquanto o Alfredo se conseguiu manter sempre fiel ao PCP. Estes trajectos diferentes faziam toda a diferença e tornavam qualquer conversa numa "batalha de palavras". Normalmente inclinávamos-nos para o lado do Alfredo, graças às suas lições de "ética e estética", o que deixava o Jorge furibundo, ao ponto ir deixando, aos poucos, de ser visita diária no café.
Só mesmo a memória de dois amigos para conseguir apaziguar o começo de uma discussão e nos deixar a sorrir...
(Fotografia de Luís Eme - Almada)
Os amigos que se vão deixam sempre uma marca nos que lhes sobrevivem.
ResponderEliminarAbraço, saúde e bom domingo
É verdade, Elvira. Deixam sempre um vazio...
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