terça-feira, janeiro 24, 2023

O Preço da Inexistência de uma Política Cultural


Uma das maiores lacunas no nosso país, no pós-Abril, continua a ser a aposta na cultura. 

Nunca existiu uma política cultural concertada pelo Estado, desenvolvida desde o começo da nossa vida escolar (tal como não existe no desporto, só que este sempre teve a vantagem de não precisar de tantos meios e de ser muito mais acessível a todos, se esquecermos a vela, o ténis ou o hipismo...).

O Estado ao longo de quase cinquenta anos, limitou-se a apoiar os projectos e as pessoas que lhes davam visibilidade (e votos...), quase sempre de uma forma pontual. Neste Estado coloco também as Autarquias, que foram desenvolvendo políticas culturais completamente diferentes umas das outras. Os Municípios de esquerda sempre utilizaram a cultura como bandeira, ao contrario dos mais conservadores, que sempre olharam com desconfiança para os agentes culturais, como se estes fossem uns "perigosos esquerdistas".

E chegamos hoje a uma situação quase insustentável, com teatros sem espectadores, livros sem leitores e exposições sem visitantes. Isto faz com que uma boa parte dos artistas sejam quase forçados a ter uma segunda profissão, para não "morrerem de fome", como acontecia antes de Abril.

O curioso, é que ninguém fala destes problemas, nem mesmo os actores (os que acabam por ter mais visibilidade...), que têm de trabalhar em bares, restaurantes ou conduzir "tuks-tuks", para terem dinheiro para o pão e para a sopa. 

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


4 comentários:

  1. Boa noite
    A política cultural deveria ser onde mais se havia de investir pois é mesmo o ponto mais fraco da nossa sociedade.

    JR

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    1. A Cultura acaba por nos influenciar em tudo, Joaquim.

      Está lá a "ética e a estética" que tanta falta faz à política...

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  2. Nāo sei quanto a sociedade portuguesa evoluiu culturalmente nas últimas décadas, mas pelo que dizes, estarei errada ao pensar que poderá estar a um nível muito inferior à média dos outros países europeus?

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    1. Não, estás certa, Catarina.

      Se não existe uma política cultural estatal, as coisas quase que acontecem apenas pela vontade das pessoas (quando não têm obstáculos pela frente, porque há muito quem não faça nem deixe fazer...).

      Existem sim alguns municípios (quase todos de esquerda...), que tentam fazer a sua "política cultural", muitas vezes centralizada neles mesmos (o PCP funciona muito assim...). Mas sem expressão nacional.

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