domingo, janeiro 29, 2023

«Estes xocialistas da costa quando falam em ética republicana deviam lavar a boca com sabão»


O Mário Soares nunca foi um político sobre quem tivesse muita admiração, embora me surpreendesse, várias vezes, pela positiva, até por questões pessoais.

Isso aconteceu em parte por ele ser um "verdadeiro animal político". Além de ter uma cultura superior, era capaz de ver mais longe que a maior parte dos seus companheiros e adversários, para o bem e para o mal.

E à distância de quase meio século da Revolução de Abril, é fácil dizer que ele é uma das grandes figuras da chamada segunda República (senão mesmo a maior).

Por ter um feitio especial, teve atritos com outras grandes figuras da nossa democracia, como foram os casos de Francisco Sá Carneiro ou do general Ramalho Eanes. Por este último ter feito anos esta semana, acabou por aparecer na nossa mesa, durante o café. O Pedro, que o conheceu bem, deu vários exemplos da sua honorabilidade. O Carlos "dos jornais" (é uma alcunha recente, por ser praticamente a única pessoa da mesa que ainda lê jornais de papel, diariamente, e nunca compra o "pasquim" da Cofina...), trouxe Mário Soares para a conversa e regressou-se aos anos oitenta do século passado. 

Quase que só os escutei, porque nesses tempos os meus interesses estavam distantes da política (e ainda estão, diga-se de passagem, mas hoje acompanho mais a dia-a-dia do país...).

E foi assim, que a meio da conversa surgiu a "ética republicana", tão proclamada em vários discursos e entrevistas, por ministros, secretários de Estado e pelo próprio António Costa, com a Carlos a dizer: «Estes xocialistas da costa quando falam em ética republicana deviam lavar a boca com sabão.»

Não foi difícil encontrar unanimidade na mesa...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


2 comentários:

  1. Ele tinha qualquer coisa para dizer sobre este texto, mas não consegue alinhar o que quer que seja, algo que tem a ver por ainda hoje pensar, quase a bater os 78 anitos, que Eanes e Soares foram mais prejudiciais ao país do que aquilo que para aí se conta.
    Mudemos a agulha, que os tempos não estão fáceis, nada fáceis, e cite-se o Eduardo Guerra Carneiro, na última página do maravilhoso «Isto Anda Tudo Ligado»:
    «Ouve agora o cantar da andorinha, a água da fonte, a sirene da fábrica, o saxofone quebrado mas que ainda solto nítidos gritos. Ouve também a tua voz e todas estas magníficas vozes rasgando o silêncio do tempo. dos tempos, de todo o tempo.»

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    1. As pessoas têm a memória muito curta, Sammy.

      Até mesmo o quase santificado líder da direita, Sá Carneiro, teve atitudes miseráveis, em relação à recandidatura de Ramalho Eanes (chegou a dizer, "ou ele ou eu..." e que nunca formaria governo com ele como presidente. Foi assim que apareceu Soares Carneiro...). Como faleceu durante esta campanha, ninguém fala do assunto...

      Soube destes episódios recentemente, ao consultar alguma imprensa de 1979 e 1980...

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