domingo, janeiro 15, 2023

Ainda hoje me perguntam pelo "Actor do Cabelo Azul"...


No fundo deviam saber que o "Actor de Cabelo Azul" só existia na minha cabeça. Mesmo assim, de vez enquanto perguntavam-me por ele. Eu nunca me descaía, dizia que devia continuar a fazer as mesmas coisas, embora fosse cada vez menos ao teatro...

Tudo começou há uns três anos, ainda antes da pandemia, quando comecei a escrever sobre um actor de teatro, que nunca tinha colocado os pés num estúdio de gravação. A única coisa que ele queria mesmo era viver outras vidas, ser outras pessoas, no intervalo da sua vidinha, mas no palco, sem tempo para a televisão ou o cinema. 

A fama não lhe dizia nada, era também por isso que sentia muitas vezes estar na profissão errada. Percebia que a maior parte das pessoas que vinham pisar os palcos tinham como principal desejo, ser "famosas", queriam muito que as olhassem na rua, no café ou no restaurante, com a admiração com que se olha para os "deuses" da terra. Mesmo que o disfarçassem com óculos escuros de marca...

Além da meia-dúzia de cabeleiras que tinha (não se limitava ao azul), usava uma prótese no nariz, e esta sim fazia toda a diferença. Embora fosse um simples adereço carnavalesco, dava-lhe o tal ar disforme que o tornava completamente diferente da personagem real, que tinha de interpretar diariamente, assim que saía de casa.

Para tornar as coisas ainda mais misteriosas, cheguei a dizer que todos o deviam conhecer de vista, pois também frequentava o nosso café. O que eu fui dizer... 

De vez entrava alguém preso a qualquer singularidade e perguntavam-me "é ele?". Limitava-me a abanar a cabeça e a dizer que não.

Lembrei-me do "Actor do Cabelo Azul", porque nos começos de ano, finjo sempre que "arrumo os papeis" e que começo "um novo ano"... E lá me apareceu ele, como mais um projecto de gaveta...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


5 comentários:

  1. A imaginação é poderosa. Criar personagens assim que parecem reais é um talento, meu Amigo.
    Uma boa semana com muita saúde.
    Um abraço.

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    1. A imaginação até tenta salvar-nos... e ainda bem que torna as coisas diferentes, Graça.

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  2. Alguém, em Almada, se lembrará do "piolho verde"?

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    1. Piolho verde chamavam no meu tempo à L.P.

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    2. Essa do "piolho verde" é novidade, Severino. :)

      Acho que nunca ouvi falar.

      (e como também não sou do tempo do José, da LP...)

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