Sei que os escritores normalmente não gostam muito das adaptações cinematográficas dos seus livros. Sentem que "roubaram" a alma ao livro que escreveram e que estão a ver "uma coisa diferente" na tela.
Podia falar de Ernest Hemingway, que detestou a passagem para o cinema da maior parte das suas obras literárias. Ou então referir as muitas palavras (directas e indirectas...) atiradas pela dona Agustina ao Manoel de Oliveira, por não se identificar com as várias adaptações dos seus textos feitas pelo Mestre. Ele nunca entrou em polémicas, apenas lhe respondeu com o óbvio, quando disse: «Há uma diferença muito grande entre o que é cinema e o que é um livro. A transposição de um livro para o cinema é uma coisa extraordinariamente difícil e nunca há correspondência.»
Curiosamente, mesmo sem ter visto ainda "Um Filme em Forma de Assim" de João Botelho, sobre Alexandre O'Neill, penso que ele iria gostar. Digo isto porque o O' Neill era uma personagem e a fita do João tem muita poesia do Alexandre lá dentro...
Por cá tenho gostado de algumas adaptações, outras nem tanto. Mas não posso deixar de referir "O Delfim" do Fernando Lopes (grande livro e grande filme...), que devia deixar orgulhoso o seu amigo, Cardoso Pires.
(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)
Não vi o filme " O Delfim" mas achei o livro fabuloso quando o estudei na faculdade.
ResponderEliminarAs adaptações ao cinema são ainda mais traidoras do que as traduções.
Abraço
É um grande filme, Rosa.
EliminarNão me admiro que os autores não gostem todos os filmes que vi baseados em grandes obras que já tinha lido me dececionaram. Não vi "O Delfim".
ResponderEliminarAbraço, saúde e boa semana
Pois, mas são coisas diferentes, Elvira...
Eliminar"12 anos escravo" - o único filme de que me lembro de ter gostado mais do que do livro.
ResponderEliminarComo o Sammy diz em baixo, é mais fácil fazer de um livro mau um bom filme, Severino. :)
EliminarErnest Hemingway e o realizador Howard Hawks enquanto pescam vão conversando sobre cinema e literatura e a conversa chega a um ponto em que Hemingway diz que a base de um bom filme teria de ser uma boa história. Para Hawks é-lhe indiferente porque entende quo o fundamental é a «mise-e-scene.
ResponderEliminarA génese do filme tem uma história engraçada que não resisto a contar. O realizador, Howard Hawks, e o Ernest Hemingway (autor do livro em que o filme se baseia) tinham ido à pesca no alto mar e, enquanto o peixe não mordia, divagavam discutindo Cinema e Literatura, puxando cada um a brasa à sua sardinha. Para o Hemingway a base de um bom filme teria de ser uma boa história; para o Hawks, isso era indiferente, já que o fundamental era a mise-en-scene...
- Aposto que sou capaz de fazer um grande filme com base no teu pior romance, disse ele ao Hemingway.
- Qual é o meu pior romance?, pergunta-lhe este.
- To have and have not, sem dúvida, diz o Hawks.
E assim aconteceu.
«Ter ou Não Ter» é mesmo um grande filme e por lá brilham Lauren Bacall e Humphrey Bogart.
É mesmo assim, Sammy.
EliminarQuando o livro não é muito bom, as espectativas são mais baixas e isso acaba por beneficiar ambas as partes.
É muito difícil fazer um bom filme a partir de um bom livro. Só se o autor do livro colaborar na adaptação...
ResponderEliminarMas não se pretende que um filme seja uma cópia de um livro, Maria.
EliminarPara isso acontecer teria de ser um filme com muitas horas...