segunda-feira, fevereiro 07, 2022

A Memória Misturada com a Economia das Palavras e os "Rabos-de-Palha"...


Durante a infância passei sempre, entre um a dois meses das férias grandes, na casa dos meus avós maternos. O avô era agricultor a tempo inteiro, distribuindo-se diariamente pelas várias fazendas e vinhas que possuía. A avó era uma daqueles seres multifacetados, que se disfarçava de dona de casa, mas fazia um pouco de tudo, em casa e nos campos.

Eu e meu irmão acompanhávamos mais a minha avó que o meu avô, que saia cedo de casa para a sua labuta diária. O que se compreendia, pois era difícil estar atento a duas crianças e a trabalhar ao mesmo tempo. Ou seja, era a avó que mais aturava as nossas traquinices. Embora fosse uma pessoa um pouco seca, tinha expressões giríssimas para quase tudo. Usava muitos ditos populares, sem sequer se aperceber. O avô também se fazia entender muitas vezes através da sabedoria popular, mas com menos ligeireza e mais profundidade (adorava contar-nos estórias e lendas e era bastante bom neste "ofício"...).

Não estava à espera de toda esta introdução, pois ia apenas falar dos "rabos-de-palha", que todos temos (uns mais quer outros, como em tudo na vida...), mas a memória gosta de se meter pelo meio e...

A minha filha, com dezassete anos, excelente aluna, de vez em quanto pergunta-me o significado disto e daquilo. Nem precisava, o "google" é um rapaz com muito melhor memória para estas coisas, que eu. Mas acaba também por ser um pretexto para conversarmos, o que é muito bom, nestes tempos de economia de palavras...

Expliquei-lhe que "rabos-de-palha" são coisas que deixamos para trás, mal resolvidas, que podem ir  de erros cometidos a falhas involuntárias. Como "deixam rasto", podem ser utilizadas pelos outros, quando menos esperamos, para fazerem "tiro ao alvo". Sorriu com a explicação e disse que era mais ou menos o que pensava...

(Fotografia de Luís Eme - Sobreda)


4 comentários:

  1. E anda sempre gente à procura dos rabos-de-palha dos outros esquecendo-se dos seus! :))

    Abraço

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  2. Tal como dizia o outro: quando apontas um dedo aos outros tens os outros três a apontar para ti.

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    1. É quase sempre assim, Severino. É fácil apontar, é só esticar o dedo. :)

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