É por isso que lhe vou fazer a vontade e deixar que "Os (seus) Passos em Volta", falem...
É quase um livro de viagens. É quase um diário. É quase um poema. Quase... mas na verdade é apenas um livro de contos. Contos que comunicam (pelo menos comigo fartaram-se de conversar...), que questionam (também me perguntaram algumas coisas...). À medida que fui lendo as palavras do Herberto, fui-me sentindo "perdido", para estar ao mesmo nível dele, tentei evitar alguns absurdos e ficar apenas preso à sua linguagem, que parece, e é, simples...
A única coisa que continua a ser uma dor de cabeça é o "mundo" que vai saindo e entrando das páginas do livro. Embora se use cada vez menos esta palavra, vivemos numa "caixa" cada vez mais surreal...
Para terminar, só posso dizer que este é mais um daqueles livros que li cedo demais... A experiência de vida e também de leituras, fez com que agora lesse muito mais "páginas" e que encontrasse mais "personagens", quase a quererem cravar-me um cigarro. Ainda bem que não o fizeram, evitaram-me o embaraço de ter de dizer que não fumo...
(Fotografia de Luís Eme - Almada)
Como a parte importante, e que conta, é ler livros, sempre admitiu que qualquer livro nunca se lê cedo demais. Claro que o Herberto Helder é um sacana de todo o tamanho. O Luiz Pacheco, que foi o seu primeiro editor, num golpe de olhar, viu logo tudo. Observ agora o Luís que «ninguém me tira da cabeça, que nada disto foi inocente, ele devia saber que esta sua "não existência" só o poderia transformar, mais tarde ou mais cedo, numa figura mitológica da nossa literatura.»
ResponderEliminarMesmo que morresse só numa retrete de Paris, a excelência da alma humana, e a sua contínua perfeição, Herberto já sabia que «é na morte de um poeta que se principia a ver que o mundo é eterno.»
Quantas vezes já ele andou à volta daqueles passos?
Se fosse tão preciso como o avô, que, na última página em branco de um livro, colocava a data do início e do fim da leitura, saberia. Também não sabe o horário dos comboios que, possivelmente irão para o norte… «e nada mais somos do que o Poema onde as crianças se distanciam loucamente».
Curioso ó Sammy, é que eu, tal como o teu avô, anoto, na última página em branco do livro que acabo de ler, a data do início e do fim da leitura.
EliminarÉ que, certamente tu como leitor, sabes que um livro lido, independentemente de termos gostado muito ou pouco, ao fim de pouco tempo já se varreu quase por completo da memória do leitor, seja ele novo ou velho. Até já me aconteceu estar a ler um livro e, a páginas tantas, começo a matutar: mas parece-me que já li este livro, ou estarei confundido???
Sammy, só encontrei o Herberto uma vez, no Café Expresso, no Largo da Misericórdia, no começo da década de noventa no século passado.
EliminarTrocámos duas ou três palavras, com a recusa dele em ser entrevistado, como era normal, mas com simpatia (não fez uma cara feia)...
Já devia saber que não precisava de se dar a conhecer, era melhor que os leitores o "inventassem" através dos poemas. E sim, devia saber já onde ficava a "eternidade" dos poetas. :)
É curioso, Severino, nunca fiz isso, nunca marquei os dias do começo e fim das leituras.
EliminarTambém não o vou fazer, é capaz de me querer "apressar" as leituras. :)
Também conheceu, conhecer é como quem diz…, Herberto Helder no «Expresso-Bar», uma tarde que aportou em busca do Baptista-Bastos. Um vago aceno e o nascimento de uma antipatia que o levou a dizer que não mais leria uma linha do Herberto. Mentira e disparate puros. Como já disse, ainda anda às voltas com o livro – e não só! - onde se diz que podemos enlouquecer com os milhares de histórias que conhecemos.
EliminarQuando aparece aqui no Largo, para além do que lê e vê, é mais para conversar do que para comentar, e assim aproveita para dizer ao Seve que havia uma ternura, um gosto, naquele apontar de datas que o avô deixava na página em branco dos finais dos livros. Ainda sente aquele seu olhar de satisfação.
E é sempre bom conversar, Sammy. :)
EliminarHá muito que tenho a impressão de que uma das poucas boas razões para um escritor se apresentar em público é a intervenção política, à maneira de Chomsky. Na ausência de uma boa razão, esta ou outra, o escritor presta-se a envergar o fato de publicitário. Os casos mais caricatos, hoje tão comuns que já não fazem levantar uma fracção de sobrancelha a seja quem for, é a daqueles que aceitam ser entrevistados por "qualquer um" (leia-se por um daqueles "jornalistas-celebridade" da televisão) e que assim acabam por fazer figura do animal exótico que é posto em exibição numa jaula. Temos a impressão de ver passar o Alberto Pimenta fotocopiado até ao infinito, com uma tabuleta "Escritor" ao pescoço e um macaco a seu lado trajando à jornalista. (Hoje alguns "escritores" entrevistados nos jornais de referência gabam-se de saber pouco de literatura, de desconhecer Camões,...; no cinema é o mesmo: ainda há pouco um menino célebre gabava-se no festival de Cannes de não ter visto os filmes de Godard; os gajos da Nouvelle Vague disseram todo o mal que quiseram da "qualité française", mas só depois de os terem visto e analisado de fio a pavio). No mínimo, um escritor deveria seleccionar criteriosamente quem aceita como entrevistador sendo o conhecimento aprofundado da literatura "conditio sine qua non" porque se não era para falar de literatura para que caraças é que convidaram o escritor?
ResponderEliminarMais o mais importante é que vou reler "Passos em Volta", foi uma óptima sugestão, obrigado!
Infelizmente o chamado intelectual foi desvalorizado da nossa sociedade, Miguel.
EliminarO "saber" está longe de ser a ambição da nossa sociedade, que prefere a "fama", acima de todas as coisas.