terça-feira, outubro 12, 2021

«Não ligues, são novos e só olham para fora. Gostam de fingir que não têm "dentro", que são ocos»


Estive por ali, dois ou três minutos. Depois virei costas a toda aquela gente, irritada com o vulcão que nunca mais aparece, para virar a cidade de pernas para o ar. 

Não me lembrava de ver tantos dedos apontadores, tanta gente chateada porque nunca mais chove. 

Vim-me embora, nem me dei ao cudado de fingir que vinha fumar um cigarro à porta do salão.

Já na rua acabei por sorrir, porque estava por ali um amigo, que fumava mesmo um cigarro. Ele estava à espera de companhia para descer até ao centro da cidade.

Enquanto caminhávamos de regresso ao nosso bairro, percebemos o quanto estávamos velhos, Era uma tarefa quase impossível entender aqueles jovens rebeldes, estávamos mesmo fora deste tempo. No nosso tempo, éramos diferentes, nunca quisemos agarrar a lua sem no mínimo saltar.

O que estranhámos mais foi não haver qualquer possibilidade de diálogo. Foi quando o Pedro me disse, sem conter o riso: «Não ligues são novos e só olham para fora. Gostam de fingir que não têm "dentro", que são ocos.»

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


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