Não me lembrava de ver tantos dedos apontadores, tanta gente chateada porque nunca mais chove.
Vim-me embora, nem me dei ao cudado de fingir que vinha fumar um cigarro à porta do salão.
Já na rua acabei por sorrir, porque estava por ali um amigo, que fumava mesmo um cigarro. Ele estava à espera de companhia para descer até ao centro da cidade.
Enquanto caminhávamos de regresso ao nosso bairro, percebemos o quanto estávamos velhos, Era uma tarefa quase impossível entender aqueles jovens rebeldes, estávamos mesmo fora deste tempo. No nosso tempo, éramos diferentes, nunca quisemos agarrar a lua sem no mínimo saltar.
O que estranhámos mais foi não haver qualquer possibilidade de diálogo. Foi quando o Pedro me disse, sem conter o riso: «Não ligues são novos e só olham para fora. Gostam de fingir que não têm "dentro", que são ocos.»
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)
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