sexta-feira, junho 14, 2024

O teatro é cada vez mais outro...


Ontem estive com três amigos do teatro, que aproveitaram a minha visita, para fazerem contas à vida, para depois acrescentarem que os problemas continuam a ser os mesmos de sempre, para quem a vida nunca foi fácil, neste país que faz "gala" em tratar mal os criadores (quase todos, das artes e letras).

Os únicos que escapam a esta "triste sina" na Arte de Talma são a meia-dúzia de actores e actrizes, que gosta do conforto de fazer parte do clube dos "artistas do regime", ao mesmo tempo que enchem revistas com jogos de "verdade e consequência" e "brilham" na primeira fila das telenovelas.

Os subsídios são cada vez mais curtos, os espectadores cada vez visitam menos as salas... 

Eles sabem que o teatro nunca vai acabar, mas também sabem que cada vez haverá menos companhias ou grupos profissionais...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, junho 12, 2024

O que havia antes do depois (continuação de ontem)...


Para ficarem com uma imagem do que existia antes de se erguer o tal muro no Ginjal, coloco aqui duas fotografias que dão uma panorâmica do que está acontecer  nesta zona rente ao Tejo, da Margem Sul.


Faz-me confusão a passividade das autoridades perante estes aparentes abusos. Parece que tudo é permitido em algumas zonas do Concelho...

(Fotografias de Luís Eme - Ginjal)


terça-feira, junho 11, 2024

A tentação de erguer muros...


O Ginjal está longe de ser "uma terra de ninguém", mesmo assim tem sido um espaço fértil em ocupações, de imigrantes de mais de uma nacionalidade. Um dos barrações, onde esteve alojado o Clube Náutico de Almada foi ocupado por "pseudo-artistas", que andam ao "lixo" pelas ruas da cidade, provavelmente quando esta dorme e criaram uma espécie de "quermesse", com livros, quadros, fotografias e mil e uma bugigangas, que devem vender à melhor oferta.

Só entrei naquele espaço logo no início, quando ainda estava aberto e eles ocupavam um espaço mais recatado. Pouco tempo depois começaram a colocar madeiras nas janelas e portas improvisadas, tornando o que era aparentemente público (abandonado, mesmo com donos...) em privado. Nunca liguei muito a este comportamento, que é mais normal do que parece. Quem ocupa, tenta tornar esses espaços seus...

Mas o que estranhei foi terem erguido agora, um muro em cimento, num espaço antes aberto (será para terem também o seu quintal "reservado"?)... 

Pois é... Mesmo quem vive às vezes preso entre muros, por muito que clame pela liberdade, assim que pode, faz também o seu murozito de estimação...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


segunda-feira, junho 10, 2024

Camões do Tamanho de Portugal


Luís de Camões é, sem qualquer dúvida, o nosso grande poeta da história. 

Sei que há Fernando Pessoa, mas não nos devemos esquecer que Camões é do século XVI...

Por hoje ser aquele dia que é muitas coisas, até Dia de Portugal, a melhor combinação continua a ser o Dia de Camões.

E nada melhor que esta fotografia tirada na Feira do Livro, para homenagear o nosso Poeta, que além de excepcional vate, via melhor com um só olho que muito boa gente com dois...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, junho 08, 2024

A partidarização da justiça (cada vez mais às claras)


Ninguém no nosso País deverá ter dúvidas que há uma "partidarização" da justiça, especialmente dentro do ministério público.

Começa a ser norma que na semana antes das eleições, apareça um escândalo qualquer que, normalmente, envolve a principal força da oposição. Ou seja, se for o PS que está a governar, há uma forte possibilidade de que alguém do PSD seja "investigado".  Se for o PSD (ou AD...) que seja governo, acontece o mesmo em relação ao PS. Neste caso a vitima directa é Lacerda Sales, as indirectas são o Presidente da República e a antiga ministra da Saúde, que por mera coincidência, é a cabeça de lista do PS, às Eleições Europeias...

É apenas mais um sector do país a precisar de um verdadeiro "25 de Abril"...

(Fotografia de Luís Eme - Caramujo)


sexta-feira, junho 07, 2024

A medida pessoal do tempo...


Sei que é um exagero dizer que cada um de nós tem uma medida do tempo, mas não deixa de ser verdade, que não vivemos todos no mesmo tempo...

E não estou apenas a referir-me à vizinha que sempre que se cruza comigo na rua, pergunta pelos meninos, "como estão os meninos". E entretanto já passaram quase vinte anos... já estão uma mulher e um homem.

Passa-se o mesmo com os acontecimentos. Se não estivermos a lidar com cronologias, facilmente temos a noção que o tempo é mais lento do que realmente é... Facilmente dizemos que algo que se passou há vinte anos, passou-se há apenas dez.

Ou seja, trata-se de uma imprecisão natural, que faz parte do facto de sermos seres imperfeitos, que à medida que o tempo passa (sempre o tempo), perdemos qualidades, a todos os níveis.

Talvez seja por isso que alguns espertalhaços continuem a pensar que o futuro é a inteligência artificial...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


quinta-feira, junho 06, 2024

Uma coisa é um coisa, outra coisa, é outra coisa...


Nas campanhas eleitorais devia ser proibido resolver (ou fingir que resolvem...) problemas, como aconteceu agora com a imigração.

O pior de tudo é a mistura que se faz de quem trabalha e tenta ter uma vida normal (a maior parte das pessoas que forma filas na AIMA...), e de quem vive "do ar", que tornou alguns largos e praças de Lisboa em pequenos parques de campismo clandestinos, sem quaisquer condições higiénicas ou de salubridade, e que têm tido a sorte de as polícias portugueses estarem mais preocupadas com seu o subsídio de risco que em cumprir as suas funções de segurança e fingem que não os vêm nas ruas (caso contrário muitos já tinham sido "deslocados" à bastonada)...

E quem é esta gente que "vive do ar"? São pelo menos dois tipos de pessoas: as que gostam de vagabundear, que encontraram em Portugal, um país onde reina mais a anarquia, que em Espanha, por exemplo (para não ir mais longe) onde muitas leis não são para cumprir e se finge que "está tudo bem"; e as que foram "contratadas" para trabalhos sanzonais (agricultura e hotelaria) e que quando deixaram de ser necessárias, foram abandonadas à sua sorte, acabando pro se deslocar para a Capital, porque há sempre a ilusão de que é mais fácil encontrar um trabalho qualquer por lá.

Estas situações não irão mudar, também por duas razões: os maus patrões vão continuar a explorar esta mão de obra barata, descartando-a, quando deixa de ser boa para o negócio; e qualquer pessoa poderá continuar a entrar no país, sem qualquer controle (a única vigilância com alguma eficácia faz-se nos aeroportos), por terra e mar...

O problema é que todas estas "misturas" só fazem com que aumente o racismo e a xenofobia entre nós, dando força a uma extrema-direita sem qualquer princípio humanista.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, junho 05, 2024

«Sempre que vires a porta aberta, entra...»


O portão exterior estava aberto e entrei, subi as escadas, fiquei por ali, a ver as vistas do terraço. A porta do atelier também estava aberta, ouvia-se música de rádio no interior, fiquei indeciso, se devia tocar no batente da porta ou não.

Passava por ali, dezenas de vezes, mas raramente encontrava o portão aberto. E nessas raras vezes, nunca subi...

Felizmente bati e ouvi uma voz no interior, que me disse para esperar. Quando  o Mestre me viu, recebeu-me com grande alegria, desculpou-se pela desarrumação, que se fazia notar, logo ali no hall de entrada, como se isso tivesse alguma importância.

E começámos a falar (aliás ele começou a falar...), do significado das peças e dos objectos artísticos que nos davam as boas vindas naquele espaço. E claro das fotografias e diplomas (cada um deles também com uma história pessoal...). 

Era também a história de uma vida...

Pelo meio aparecia uma descoberta, um acaso local que o levava a questionar amigos historiadores e a folhear livros que poderiam ter respostas... Sim, ele nunca quis ser apenas professor e pintor. Também era investigador, gostava de saber coisas sobre história de arte.

Depois entrei na sala de pintura, que precisava mesmo de arrumação. Mas aquela desordem tinha um brilho especial. De um lado livros nas estantes e no chão, empilhados, de outro desenhos antigos também espalhados pelo chão (à espera de tempo para serem "classificados" e "ordenados"... E na parte central de uma das paredes, panos, pincéis, tintas, que estavam na fase de serem quase um objecto de museu (ou então de irem para o lixo...).

E entretanto era hora de almoço. Despedimo-nos com um abraço. E ele disse, com um ar feliz: «Sempre que vires a porta aberta, entra...»

Fiz sinal que sim, agradado com aquele encontro especial, cheio de histórias, de pessoas e de lugares...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


terça-feira, junho 04, 2024

Sabia que ser pai era muitas coisas...


Eu sabia que somos amigos de formas diferentes. Isso acontece porque sentimos e olhamos as coisas também de forma diferente.

Também sabia que nos tornamos íntimos de alguém, quando lhes começamos a contra coisas que não contamos aos outros, mesmo quando são família.

Foi por isso que nem estranhei que o Valentim me começasse a falar do filho que perdera, daquela forma. Nunca fora tão longe. Até falou das suas visitas ao Casal Ventoso, para lhe comprar o que o corpo lhe pedia. Foi quase dentro de um sussurro que reviveu o dia que o encontrou, com uma seringa presa a um dos braços.  Estava com os olhos abertos, a olhar para o infinito, com um ar que quase parecia feliz... 

Foi quando os seus olhos ficaram brilhantes e o silêncio tomou conta da mesa onde almoçávamos.

Sabe que falhou em alguma coisa. Mas ainda não percebeu onde. Falou-me em excesso de amor dele e da companheira. E também em excesso da liberdade. Deixou-o desde cedo viver a vida que queria viver, mesmo quando ele ainda não sabia bem o que queria...

Pensava que ser pai era, sobretudo, isso. Talvez estivesse enganado.

Não fui capaz de dizer nada. Sabia que ser pai era muitas coisas, mas as que ele dera ao filho, eram as melhores que algum pai podia dar a um filho: Amor e Liberdade, Talvez devesse ter dito isso. 

Talvez...

As pessoas precisam de falar, precisam de contar, precisam de tentar compreender, mesmo o que parece incompreensível. Foi o que pensei depois de nos termos separado na esquina do costume, com as recomendações dele à minha família como continuam a fazer os antigos.

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


segunda-feira, junho 03, 2024

«Tenta escrever. Tens a história toda na tua cabeça.»


Já me tinham feito algumas propostas estranhas, mas nenhuma como esta.

A senhora cruzou-se comigo e com mais três amigos na rua, depois do almoço. Cumprimentou mais efusivamente um dos nós, de quem era amiga, depois virou-se para mim e disse que precisava de falar comigo.

Fiquei meio surpreso, mas disse que sim, sem saber o que viria dali, até porque apenas nos conhecíamos de vista e trocávamos bom dia e boa tarde. Perguntou se podia ser na segunda-feira, na esplanada de um dos cafés da Praça Gil Vicente, às 14.30 horas.

E hoje lá nos encontrámos, com a companhia de dois cafés.

Ela começou por perguntou se nos podíamos tratar por tu. Disse que sim. Depois começou-me a contar uma história que achava que poderia dar uma boa peça de teatro. Durante dez minutos escutei-a sem qualquer interrupção. Depois, com alguma lata, ela disse que estava ali para me convidar para escrever aquela peça.

Eu sorri, e, também com a lata possível, disse que ela não precisava de ninguém para escrever a peça. O drama estava toda na sua cabeça, era só colocá-lo no papel.

Fez uma careta e disse que não sabia escrever. Eu insisti e disse que só precisava de ir falando alto, como o tinha feito ali, e escrever, escrever... 

Continuou reticente. Foi então que lhe ofereci apoio, dizendo que não me importava de fazer uma leitura crítica, mas insisti: «Tenta escrever. Tens a história toda na tua cabeça.»

Vamos ver o que irá acontecer. Era bom que acontecesse teatro...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


domingo, junho 02, 2024

"um rio chamado tempo, uma casa chamada terra"


É quase parvo dizer-se que se gosta muito da escrita de um autor, mas que não se têm lido tantos livros quantos se deviam da sua autoria.

O problema é que isso não se passa apenas com Mia Couto. Há pelo menos uma dúzia de escritores a quem faço o mesmo. Nem é muito difícil arranjar desculpas. Além de ser humanamente impossível ler todos os livros que desejamos, também é normal aparecer mais que um livro, capaz de fazer ultrapassagens, tanto pela esquerda como pela direita, fazendo com que as "filas de espera" continuem a crescer nas estantes da casa.

Mas foi um prazer imenso ler "um rio chamado tempo, uma casa chamada terra", e viajar por dentro de uma família especial (como são todas as inventadas pelo Mia Couto...), que abraça as tradições, usa os dialectos locais e reinventa o misticismo e a magia, que fazem parte do dia a dia do continente africano.

Apesar do escritor moçambicano nos levar de viagem pelo presente e pelo passado, gostar de usar metáforas, ditos populares, e até enigmas, dá-nos sempre espaço para a reflexão, para pensarmos sobre o que andamos por cá a fazer (ou a não fazer...). 

Para tornar as coisas mais enigmáticas, Mia Couto fez aparecer "cartas" ao longo dos capítulos (que aparecem e desaparecem...), trocadas entre os Marianos, cheias de pequenas e grandes curiosidades, que vão adensando a ficção. 

Foi por isso que resolvi retirar uma frase da última "epistola": «Há um rio que nasce dentro de nós, corre por dentro da casa e desagua não no mar, mas na terra.»

(Fotografia de Luís Eme - Sobreda)


sábado, junho 01, 2024

Dois exemplos da "cegueira pelo poder"...


Sei que hoje devia ser dia para falar de crianças e não de "criancices", mas os meus filhos cresceram e...

Não me lembro de ver um líder de um partido (PS), depois de perder as eleições (de uma forma notória...) na ilha da Madeira, achar que tem a mesma legitimidade para ser poder que o vencedor das eleições, Miguel Albuquerque, do PSD. 

Talvez o senhor Cafôfo pense que o melhor é acabar-se, primeiro com as eleições e depois com a democracia...

Também não me lembro de ver gente tão agarrada ao poder como o antigo presidente do FC Porto, depois de 42 anos de presidência do clube (foi muito difícil tirá-lo do "poleiro") e agora o treinador da equipa principal de futebol, Sérgio Conceição. Apesar da sua "ambiguidade" (nunca assumiu de uma forma directa a sua saída, embora o seu apoio ao presidente derrotado e a assinatura de um contrato a dois dias das eleições digam tudo da personagem...), é óbvio que ele não quer continuar como treinador. Mas também não quer que seja o seu antigo adjunto, como se este fosse apenas um seu "lacaio", não tivesse valor ou vontade própria.

São dois exemplos do que faz a "cegueira pelo poder", com esta gente a prejudicar de uma forma inqualificável as instituições que dizem "amar até à morte"...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)