segunda-feira, junho 03, 2024

«Tenta escrever. Tens a história toda na tua cabeça.»


Já me tinham feito algumas propostas estranhas, mas nenhuma como esta.

A senhora cruzou-se comigo e com mais três amigos na rua, depois do almoço. Cumprimentou mais efusivamente um dos nós, de quem era amiga, depois virou-se para mim e disse que precisava de falar comigo.

Fiquei meio surpreso, mas disse que sim, sem saber o que viria dali, até porque apenas nos conhecíamos de vista e trocávamos bom dia e boa tarde. Perguntou se podia ser na segunda-feira, na esplanada de um dos cafés da Praça Gil Vicente, às 14.30 horas.

E hoje lá nos encontrámos, com a companhia de dois cafés.

Ela começou por perguntou se nos podíamos tratar por tu. Disse que sim. Depois começou-me a contar uma história que achava que poderia dar uma boa peça de teatro. Durante dez minutos escutei-a sem qualquer interrupção. Depois, com alguma lata, ela disse que estava ali para me convidar para escrever aquela peça.

Eu sorri, e, também com a lata possível, disse que ela não precisava de ninguém para escrever a peça. O drama estava toda na sua cabeça, era só colocá-lo no papel.

Fez uma careta e disse que não sabia escrever. Eu insisti e disse que só precisava de ir falando alto, como o tinha feito ali, e escrever, escrever... 

Continuou reticente. Foi então que lhe ofereci apoio, dizendo que não me importava de fazer uma leitura crítica, mas insisti: «Tenta escrever. Tens a história toda na tua cabeça.»

Vamos ver o que irá acontecer. Era bom que acontecesse teatro...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


2 comentários:

  1. Respostas
    1. Não sei, Rosa.

      Até porque eu sei que falar é diferente de escrever... Mas não fui capaz de lhe dizer.

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