domingo, junho 02, 2024

"um rio chamado tempo, uma casa chamada terra"


É quase parvo dizer-se que se gosta muito da escrita de um autor, mas que não se têm lido tantos livros quantos se deviam da sua autoria.

O problema é que isso não se passa apenas com Mia Couto. Há pelo menos uma dúzia de escritores a quem faço o mesmo. Nem é muito difícil arranjar desculpas. Além de ser humanamente impossível ler todos os livros que desejamos, também é normal aparecer mais que um livro, capaz de fazer ultrapassagens, tanto pela esquerda como pela direita, fazendo com que as "filas de espera" continuem a crescer nas estantes da casa.

Mas foi um prazer imenso ler "um rio chamado tempo, uma casa chamada terra", e viajar por dentro de uma família especial (como são todas as inventadas pelo Mia Couto...), que abraça as tradições, usa os dialectos locais e reinventa o misticismo e a magia, que fazem parte do dia a dia do continente africano.

Apesar do escritor moçambicano nos levar de viagem pelo presente e pelo passado, gostar de usar metáforas, ditos populares, e até enigmas, dá-nos sempre espaço para a reflexão, para pensarmos sobre o que andamos por cá a fazer (ou a não fazer...). 

Para tornar as coisas mais enigmáticas, Mia Couto fez aparecer "cartas" ao longo dos capítulos (que aparecem e desaparecem...), trocadas entre os Marianos, cheias de pequenas e grandes curiosidades, que vão adensando a ficção. 

Foi por isso que resolvi retirar uma frase da última "epistola": «Há um rio que nasce dentro de nós, corre por dentro da casa e desagua não no mar, mas na terra.»

(Fotografia de Luís Eme - Sobreda)


6 comentários:

  1. Li este livro de Mia Couto e tocou-me muito.
    Tudo de bom.
    Uma boa semana.
    Um abraço.

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  2. Gostei bastante de ler esta tua publicação. Acabei de confirmar que a rede de bibliotecas tem este livro, mas no formato físico. Vou aguardar até que o possuam no formato digital.
    E mais uma vez digo, repetindo... de novo... que foste tu que me apresentaste a Mia Couto, de quem li vários livros, uns atrás dos outros, na altura. Uns anos mais tarde, viria a conhecê-lo pessoalmente, trocando umas breves palavras, quando da apresentação de um dos seus livros.
    : )

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  3. Já li vários dele, entre os quais este mas estou sempre a deixar alguns para trás.

    Abraço

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