Também sabia que nos tornamos íntimos de alguém, quando lhes começamos a contra coisas que não contamos aos outros, mesmo quando são família.
Foi por isso que nem estranhei que o Valentim me começasse a falar do filho que perdera, daquela forma. Nunca fora tão longe. Até falou das suas visitas ao Casal Ventoso, para lhe comprar o que o corpo lhe pedia. Foi quase dentro de um sussurro que reviveu o dia que o encontrou, com uma seringa presa a um dos braços. Estava com os olhos abertos, a olhar para o infinito, com um ar que quase parecia feliz...
Foi quando os seus olhos ficaram brilhantes e o silêncio tomou conta da mesa onde almoçávamos.
Sabe que falhou em alguma coisa. Mas ainda não percebeu onde. Falou-me em excesso de amor dele e da companheira. E também em excesso da liberdade. Deixou-o desde cedo viver a vida que queria viver, mesmo quando ele ainda não sabia bem o que queria...
Pensava que ser pai era, sobretudo, isso. Talvez estivesse enganado.
Não fui capaz de dizer nada. Sabia que ser pai era muitas coisas, mas as que ele dera ao filho, eram as melhores que algum pai podia dar a um filho: Amor e Liberdade, Talvez devesse ter dito isso.
Talvez...
As pessoas precisam de falar, precisam de contar, precisam de tentar compreender, mesmo o que parece incompreensível. Foi o que pensei depois de nos termos separado na esquina do costume, com as recomendações dele à minha família como continuam a fazer os antigos.
(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)
Bom dia
ResponderEliminarTodos os seus textos merecem atenção mas este merece uma atenção muito especial.
Todos os pais o deveriam ler.
JR
É a vida, Joaquim.
EliminarQue é mais complicada para uns que para outros (mesmo que muitas vezes nós
sejamos parte dessa complicação...)
«as melhores que algum pai podia dar a um filho: Amor e Liberdade»
ResponderEliminarAmor e saber, para viver livremente.
Mas nunca sabemos se estamos certos ou errados, José...
EliminarSer pai deve ser uma das coisas que nos roubam mais certezas.
Perder um filho, seja qual for a causa, é antinatural.
ResponderEliminarFalar sobre essa tragédia não é fácil.
Abraço
Penso o mesmo, Rosa.
EliminarÉ uma ferida que nunca sara...
Quando algo acontece a um filho sempre temos a tendência para nos culpabilizar e sofre-se duplamente. Pela perda e pela culpa, ainda que esta muito raramente tenha razão de existir.
ResponderEliminarAbraço e saúde
Pois temos, Elvira.
EliminarSomos injustos para nós próprios, por a vida ser tudo menos justa...