Quando as olhei, discretamente, percebi que as duas miúdas giras, não falavam. Limitavam-se a sorrir, em relação aos avisos dados pelas duas mulheres maduras, como se estes não fossem para ser levados muito a sério.
Deve ter sido esta indiferença, que fez com que a "mãe" lhes dissesse, num tom pouco amigável: «Cuidado! Ele é capaz de prometer este mundo e o outro, para obter o que quer.»
Na minha mesa estavam tão presos ao quotidiano, que ninguém ligou aquela frase. À maneira do bom "Zé Gomes", pensei que talvez só estivessem a falar alto para mim...
Não era nada estranho, darem-me espaço para "roubar" palavras, enquanto pensava em várias coisas. Comecei por desculpar a personagem de que falavam, por estar dentro deste tempo, em que os valores com que se rege a sociedade parecem ser outros. Sim, ele é tudo menos parvo. E ainda bem para ele.
Depois, o meu lado de "contador de estórias" fez-me pensar que não há muitas mulheres capazes de resistir à chamada "canção do bandido", onde se oferecem, entre outras coisas, bilhetes para duas ou três viagens imaginárias, que deixam qualquer apaixonada, mesmo que já seja cinquentona, a sonhar acordada.
Não era nada de novo, Camilo, Eça e outros bons contadores de histórias de amor, mesmo de outros séculos, exploraram o "filão".
E lá fui à minha vida, com assunto de sobra para pensar, para escrever e para contar...
(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)
Continuo a pasmar perante a ingenuidade de muitas mulheres, mas como o meu filho diz também há mulheres capazes de tudo.
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