«Quando vi passar lentamente pelas ruas
um descapotável azul, com um homem relativamente jovem ao volante, que ia
cumprimentando as pessoas com quem se cruzava, estava longe de pensar que se
tratava do padre da paróquia.
Era mesmo o padre Augusto, que segundo o
meu cicerone e companheiro, apenas tinha dois defeitos, para padre claro,
gostar de carros e de mulheres velozes. A tese dos carros estava provada, a das
mulheres limitava-se a circular nas ruas que albergavam a má língua.
Mas nem tudo eram defeitos,
reconheciam-lhe a virtude de tratar toda a gente da mesma forma, sendo incapaz
de cobrar dinheiro de um funeral a alguém que vivesse com dificuldades. Talvez
fosse por isso que lhe perdoavam o devaneio de ter um descapotável azul. Também
não gostavam muito de o ver a fumar como uma chaminé, mas eram incapazes de lhe
dizer alguma coisa.
Quem não gostava dele dizia que se
tratava de um padre comunista com gostos capitalistas. E até faziam
futurologia, dizendo que o padre Augusto não se faria velho por ali.»
A fotografia é de autor desconhecido (com um dos meus actores preferidos, o Steve McQuenn).
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