«Havia ainda outro acaso para este meu
destino, a velha casa dos meus avós paternos, que num golpe de sorte ou de
azar, acabou por ficar para nós, depois das partilhas.
Talvez os meus avós, vigilantes,
soubessem que os meus pais não iam deixar todo aquele espaço ficar em ruínas. E
aconteceu mesmo assim. Eles investiram parte das economias, com a desculpa de
não deixarem fugir as raízes alentejanas, de que tanto se orgulhavam.
Apesar da sua simplicidade, tinha uma beleza especial. Ao contrário das casas das cidades, esta só tinha o essencial. Mesmo a estante era reduzida, só tinha mesmo livros para serem lidos. As paredes estavam quase todas em branco. A única coisa que sobressaia nas paredes da sala era a fotografia com o avô a entrar na Vila na sua carroça.
Sem que existisse uma razão em
particular, o pai e mãe acabaram por aparecer menos vezes do que esperavam e a casa ficou praticamente fechada o ano inteiro. Eu também aparecia pouco, embora gostasse da Vila.
Além das boas memórias e do sangue que me corria nas veias, havia mais qualquer coisa que me ligava a esta gente. Algo que não era facilmente explicável.
Além das boas memórias e do sangue que me corria nas veias, havia mais qualquer coisa que me ligava a esta gente. Algo que não era facilmente explicável.
É demasiado profundo e não se
explica muito bem às primeiras e às segundas. E como também nunca gostei de padres, de
guardas nem de patrões, tal como o meu pai e o meu avô, sentia-me no lugar certo.»
A fotografia é de Fred Boissonnas.
(Olá Luís)
ResponderEliminarVocê tem um modo bonito demais de escrever. E conta tão bem destes lugares que sinto como se os conhecesse.
(que exagerada esta Letícia!)
EliminarOlá! :)
Uma descrição excelente da casa da infância. O Alentejo tem isso: a gente sente-se "no lugar certo". Adorei a fotografia.
ResponderEliminarUm abraço. Luís.
Mas é uma ficção, Graça.
EliminarA minha infância foi passada no Oeste. :)
Ontem estive na tua 'casa', á chuva
ResponderEliminarA chuva sabe melhor a Sul, Luís. :)
EliminarA fotografia é linda, e a descrição da casa no Alentejo muito boa. Infelizmente eu quase não conheço o Alentejo.
ResponderEliminarAs minhas raízes estão entre o Minho, Trás-os-Montes, e Beira Alta.
Um abraço
o Sul é o espaço aberto para tudo, até para o vazio, Elvira...
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