«Eram seis mas só dois tinham tido
sucesso junto dos leitores, embora na actualidade estivessem esquecidos. E
ainda por cima tinham o problema terrível de continuarem vivos.
Se morressem talvez algum livreiro se
lembrasse de lhes fazer uma montra, de recordá-los. E se a coisa resultasse, de
voltar a editá-los.
Tinha ouvido dizer mal de todos eles.
Não passavam de um grupo de velhos quezilentos, que estavam proibidos de morder
a língua durante a tarde que se encontravam, porque estavam sempre prontos a
disparar em todas as direcções, como qualquer “pistoleiro” do velho oeste.
Estava longe de ser um crédulo, era mais
parecido com o S. Tomé, queria ver para crer. Por isso tinha de aceitar aquele
convite caído das nuvens.
Deve ter sido por isso que estranhei o
ar amistoso e a forma simpática com que me receberam, a meio do almoço chegaram
mesmo a dizer que eu era um deles, como se me conhecessem melhor que eu
próprio.
Alguém tinha falado de mim, pelos vistos
bem. E como souberam que privara com Júlio Verne, Dinis Machado e o padre
Felicidade Alves, pertencia ao seu círculo, o que quer que isso fosse.
Falavam de tudo menos de política. Todos
tinham sido comunistas na juventude. Mas quando se deu a Revolução de Abril já
estavam curados. A Primavera de Praga foi mais que suficiente para perceberem
que estavam no sítio errado, à hora errada.
Continuam a acreditar na igualdade e na
justiça social, algo em que a maior parte dos comunistas não acreditavam nem
acreditam. A solidariedade deles continua a ser praticada apenas entre pares e
não para com toda a gente, algo que os define como seres humanos selectivos.
Tal como os católicos, pensam que são uma casta especial. Os católicos acham-se
donos do céu, os comunistas donos da terra…»
A fotografia é de Ferdinando Scianna.
Eu diria que " Tal como os católicos, pensam que são uma casta especial. Os católicos acham-se donos do céu, os comunistas donos da terra…" é um pouco exagerado.
ResponderEliminarUm abraço
Claro que é, para muitos, Elvira.
EliminarMas há alguns que pensam assim...