«Ainda hoje consigo ver o homem, a
desenhar com palavras a antologia da sua vida, de Paris e S. Francisco, sempre
preso à boémia, que nessa altura, segundo ele, era uma coisa barata e distante
da moda. Confessou estar cheio de saudades do cheiro a tinta do seu atelier. Falou-me como se fosse um Pomar ou um Cargaleiro, só faltou dizer que conheceu Picasso e o tratava por tu.
Vim a saber depois que tinha uma vida
para cada doente. Ao meu colega de lado apresentou-se como homossexual e
bailarino e contou-lhe histórias dos palcos com música e muito bailado, até nas
salas russas.
Na hora das visitas percebi que era casado e tinha
duas filhas que conheci. Uma delas, mais simpática, disse-me dentro de um sorriso, para não fazer caso das suas maluquices. Não voltámos a falar mas às
vezes pergunto-me: porque razão tinha ele aquela quase necessidade de se
apresentar como artista de qualquer coisa e como um homem que gostava de outros homens?
Aliás, esta era a única coisa que não variava nas
suas histórias.»
A fotografia é de Roger Mayne.
E não somos todos artistas? O gostar de outros homens poderia apenas mostrar que em seu coração havia muito espaço para a doação e o amor. Você escreve muito bem.
ResponderEliminarE por que não, Marilene?
EliminarEstranhos delírios da mente... Muito giros estes seus apontamentos! Gosto sempre.
ResponderEliminarBeijinho
A mente passa a vida a pregar-nos partidas, Graça. :)
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