sexta-feira, junho 26, 2015

O Homem que Gostava de Outros Homens


«Ainda hoje consigo ver o homem, a desenhar com palavras a antologia da sua vida, de Paris e S. Francisco, sempre preso à boémia, que nessa altura, segundo ele, era uma coisa barata e distante da moda. Confessou estar cheio de saudades do cheiro a tinta do seu atelier. Falou-me como se fosse um Pomar ou um Cargaleiro, só faltou dizer que conheceu Picasso e o tratava por tu.

Vim a saber depois que tinha uma vida para cada doente. Ao meu colega de lado apresentou-se como homossexual e bailarino e contou-lhe histórias dos palcos com música e muito bailado, até nas salas russas.

Na hora das visitas percebi que era casado e tinha duas filhas que conheci. Uma delas, mais simpática, disse-me dentro de um sorriso, para não fazer caso das suas maluquices. Não voltámos a falar mas às vezes pergunto-me: porque razão tinha ele aquela quase necessidade de se apresentar como artista de qualquer coisa e como um homem que gostava de outros homens?

Aliás, esta era a única coisa que não variava nas suas histórias.»

A fotografia é de Roger Mayne.

4 comentários:

  1. E não somos todos artistas? O gostar de outros homens poderia apenas mostrar que em seu coração havia muito espaço para a doação e o amor. Você escreve muito bem.

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  2. Estranhos delírios da mente... Muito giros estes seus apontamentos! Gosto sempre.

    Beijinho

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    1. A mente passa a vida a pregar-nos partidas, Graça. :)

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