«Não me espantei por o cabo Colaço ter sido uma das primeiras
visitas que apareceu na redacção, na manhã da saída do semanário. Depois de falar com o director, veio ter comigo.
Com cara de poucos amigos quis saber
quais eram os objectivos daquela capa, acrescentando que se pretendia pôr toda
a Vila em alvoroço, ainda por cima sem saber o que dizia, me iria dar mal.
Apenas lhe perguntei:
- E se eu estiver certo e o senhor
errado?
O guarda coçou o queixo e abanou a
cabeça de forma negativa, a dizer-me que estava enganado, acrescentando:
- Nós não nos baseamos em suposições. Só
trabalhamos com provas.
Olhei-o nos olhos e disse:
- Lá chegaremos. Aqui no Sul se há coisa
que não nos falta é paciência. Bem dito povo alentejano, que mesmo a passo de
tartaruga, não fica à espera que as coisas aconteçam.
Antes de se despedir e sem perder o seu
ar pouco amigável, deixou no ar, quase num tom de ameaça:
- Provavelmente irá ser chamado ao
posto. Não gostamos de especulações jornalísticas e por isso queremos tirar
toda esta história a limpo.
Limitei-me a dizer:
- Acho muito bem, senhor cabo. - Ao
mesmo tempo que via o homem de barriga proeminente a afastar-se e a bater com a
porta, à saída.»
A fotografia é de Vivian Maier.
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