«Habituara-se a ver e a ouvir um casal
italiano idoso no café da Alice, que ofereciam uma musicalidade agradável ao
espaço.
Falavam de gente que ele gostava, como
Pirandello ou César Pavese. O primeiro explorava a má língua e a modernidade
nos palcos, o segundo a discrição e a beleza poética.
Vim a saber mais tarde que a Isabela era
sobrinha neta da mulher de um dos filhos de
Luigi Pirandello, o Fausto, que era pintor. Na infância viveu no mesmo prédio
que eles e cresceu fascinada pelo teatro de Pirandello. Ela tem um irmão, o
Roberto, que quando era pequeno passava o tempo todo a escutar conversas, que
depois transformava em pequenas peças para a família, a quem cobrava bilhetes.
Infelizmente ou
felizmente tornou-se advogado, ou seja, pisou outros palcos pela vida fora.
O outro irmão, Marcelo,
era mais activo no exterior, adorava pregar partidas e sustos à vizinhança. Isabela
confessou que nunca percebeu quem era o verdadeiro artista lá de casa, sabia apenas
que eram ambos divertidos e gostavam que os olhassem como uma dupla que
precisava de passar uns tempos num hospício.
O marido de Isabela
limitava-se a sorrir e a acender cigarros, que raramente acabava de fumar.
Preferia as palavras de César Pavese. Era mais dado às poesias que às
trafulhices da vida do Pirandello e dos cunhados.
Eram boa gente,
percebia-se que ainda acreditavam na natureza humana, apesar de já terem
ultrapassado a meia idade.»
A fotografia é de Paola Saeti.
E não é nada fácil chegar a essa idade e continuar a acreditar na natureza humana.
ResponderEliminarMesmo nada.
Um abraço
Pois não, Elvira. :)
Eliminar...sigo neste time em que acredita na natureza humana.
ResponderEliminar;)
És do clube dos fixes, Margoh. :)
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