«Precisava de cortar o cabelo e entrei na
primeira barbearia que descobri, sem clientes.
O homem de bigode, que me recebeu com
uma vénia, convidou-me para me sentar numa das velhas cadeiras metálicas
giratórias.
Percebi que estava demasiado sisudo para um barbeiro. Já sentado expliquei-lhe o corte de
cabelo que queria, ao homem que começou a dizer mal da sua vida, dos gadelhudos
de todas as idades que entravam cada vez menos na sua casa. Frisou que há três anos que não
aumentava os preços e mesmo assim, cada vez tinha menos gente para cortar o
cabelo. Se as coisas não melhorassem, ia ter de fechar a barbearia.
Eu limitava-me a ouvir, sem muita
vontade de alimentar aquele choradinho, que era comum a todos os lugares de
comércio. Pelo menos falava da crise como se falasse do tempo, sem alterar o
tom de voz, como se fosse preciso dizer alguma coisa para estabelecer o diálogo
com o cliente.
Embora só cortasse cabelos, ele nunca
usou a palavra cabeleireiro, como se isso fosse coisa de senhoras. Minutos depois, quando ele passou o espelho pela parte
de trás, fiquei satisfeito com o seu trabalho. Paguei e saí, com ar de quem voltaria um dia destes.
Já na rua descobri que não ficara a
saber o nome do barbeiro. Era pouco normal isto acontecer, apenas fiquei a
saber que era o dono da “Barbearia Moderna”, nome entretanto gasto pelo tempo.»
A fotografia é de Robert Doisneau.
Pelo menos ficou satisfeito com o corte.
ResponderEliminarUm abraço e uma boa semana
é verdade, Elvira. :)
Eliminarpois é, mas essa profissão tem sido muito penalizada....
ResponderEliminartempos maus.
mas se o corte ficou a teu gosto, sinal que ele ganhou um cliente.
beijo
:)
Ai estas mulheres!
EliminarÉ uma ficção, Piedade. :)