«Morar no Alentejo é uma
descoberta diária. Os silêncios são quase um disfarce, de um povo que gosta da
tranquilidade e parece usar e abusar do bom senso, sem precisar de empurrões ou
de cabeças emprestadas para fazer as suas escolhas no dia a dia.
Acho que já tenho um
pouco de prenuncia. Quase sem me aperceber, tento falar como eles, com mais
musicalidade e graça, porque quero ser um deles.
Sei que a miséria está
a voltar, lentamente. As pessoas com mais idade, que cresceram com a companhia
do pão amassado pelos primos do diabo, duro e escuro, apesar de já estarem meio
dobradas pelo peso da idade, levantam a cabeça e dizem-se preparadas para
voltar a dar o peito às balas, para o que der e vier.
Na agora minha casa,
erguida pelo avô, há muitas marcas, quase todas familiares. Na rua nem por isso.
Mas há algo que me junta, mesmo a desconhecidos.
Entro na taberna e
apetece-me pagar copos de vinho tinto a todos aqueles homens com cara de velho
e fazer um brinde à fraternidade. Nunca os vi, mais gordos ou mais magros,
mas reconheço-os do mundo e também de alguns livros do Manuel da Fonseca.»
A fotografia é de Artur Pastor.
Luís faço consigo um brinde à fraternidade...
ResponderEliminarUm abraço.
Que seja, Graça.
EliminarA fraternidade é um dos gestos mais nobres dos seres humanos.
Que belo texto!
ResponderEliminarGrato, Severino.
EliminarA fraternidade independe do conhecimento de cada ser. "Cabeças emprestadas" !
ResponderEliminarComo têm feito mal aos povos!
É verdade, Marilene.
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