«Acompanhou-nos ao café e começou a falar
quase sem parar. Aproveitou as imagens da cheia no centro da Europa, para
desejar que uma coisa daquelas chegasse à Vila, mesmo que fosse só à sua casa.
Nem se importava de lhe abrir a porta. Olhámos um para o outro, com cara de caso, sem o
interrompermos.
Ele continuou com o aparente disparate,
a vivê-lo cada vez mais intensamente:
- Vocês não imaginam o prazer que me
dava, ficar sentado numa cadeira do telheiro a ver todas aquelas merdices a
serem levadas pela corrente.
Um minuto depois explicou-nos que falava
das bonecas e dos bibelots da mulher, que durante anos lhe roubaram espaço e
não lhe permitiram mexer em quase nada, da sala ao quarto onde apenas lhe era
permitido dormir.
O seu mundo era a barbearia. Mas não era
homem de guardar coisas, percebia-se que não gostava do passado. Era por isso
que precisava tanto de ajuda, para deitar fora o que tinha sido a sua vida,
desde que casara.»
A fotografia é de um autor desconhecido, retirada do blogue "Pombalinho", de Manuel Gomes.
Tanta gente que se sente assim. Com vontade de deitar fora o que tem sido sua vida. E cada vez mais, neste país triste e cinzento fechado numa lura de coelho...
ResponderEliminarA fotografia é espetacular. Deve ser das cheias do Ribatejo.
Nem sempre conseguimos viver a nossa vida, Graça.
EliminarÉ como se nos deixássemos ficar prisioneiros do outro...
doí ler, mas tanta gente por aí com vontade de mudar (certas coisas) e sem coragem....
ResponderEliminara foto está muito bem escolhida.
boa semana.
beijo
:)
A vida continua a ser uma coisa estranha, Piedade.
EliminarE não é que andamos todos assim? Com vontade de sacudir o passado e encontrar um futuro melhor?
ResponderEliminarUm abraço
sem dúvida Elvira.
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