sábado, dezembro 05, 2020

Uma (boa) Conversa com Livros na Escola...


Ainda antes da pandemia, participei numa conversa sobre livros e sobre ficções, num intervalo de uma aula de geografia do décimo ano. Os alunos tinham feito trabalhos de grupo sobre a importância do livro, em toda a sua abrangência, como documento, como romance, como auxiliar (livros de autoajuda, mas também de culinária ou atlas, mais ligados à disciplina...) e também como divertimento.

A professora fez uma espécie de ciclo, com vários convidados, que falaram da tal diversidade que se encontra dentro dos livros. Eu fui convidado para falar de ficção. 

Provocadora, a professora quis saber o que eu pensava sobre o possibilidade de o romance ter os seus dias contados. Eu abanei os ombros e disse que normalmente as coisas não acabam de "morte matada", o que provocou gargalhada geral. Depois expliquei que coisas como os romances não acabam por decreto, poderão continuar a existir mais de um século, porque dificilmente acabarão os contadores de histórias e os leitores, por esse mundo fora. Provavelmente, cada vez serão menos... mas haverá sempre alguém, capaz de "devorar" com gosto uma boa história.

Uma das questões mais curiosas e corajosas, foi colocada por um rapaz, que não teve qualquer problema em assumir à frente da sua professora,  que nunca tinha lido um livro só com palavras, da primeira à última página. Ele perguntou-me, sem qualquer "curva", qual era a verdadeira importância dos romances nas nossas vidas. Expliquei-lhe que continuavam a existir muitas vantagens nos romances, a melhor  era a possibilidade de viajarmos no tempo e no espaço, ao mesmo tempo que nos conhecíamos melhor uns aos outros com os múltiplos exemplos de vidas, impressos nos livros (também falei de diversão e prazer, há muitos livros que nos deixam felizes...). E de forma provocatória, acabei a falar do enriquecimento do nosso vocabulário, da descoberta de palavras novas, coisa que falta muito aos jovens, oferecendo como exemplo os meus filhos, que me perguntam muitas vezes qual é o significado de algumas palavras, que não fazem parte do seu dia a dia.

Achei estranho alguém chegar ao décimo ano, sem nunca ter lido um "livro só com palavras", do princípio ao fim. Foi por isso que no final, já no corredor, lhe perguntei, particularmente, se ele não tinha tido leituras obrigatórias na disciplina de Português. Disse-me que sim, mas que se socorrera dos resumos das respectivas obras, para fazer trabalhos.

Pois é, a quantidade de informação que gira à nossa volta, banaliza tudo, até aquilo que ainda se considera como o verdadeiro conhecimento...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


4 comentários:

  1. Gosto de acreditar que os romances não vão desaparecer! E espero que os livros também não, é romântico ter um livro na mão!
    Eu tenho lido muito pouco, mas gosto de ler, gosto de dar asas à minha imaginação enquanto leio, pois visualizo os personagens, as casas e as paisagens. Sou eu que mando, no caso dos filmes adaptados de livros, nunca vejo um filme para depois ler a história, já não tem piada. O que me dá prazer é imaginar, é um cantinho que é só meu!

    Abraço e bom fim de semana

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. E não irão desaparecer, pelo menos no nosso tempo, Micaela.

      São demasiado valiosos e resistentes. :)

      Eliminar
  2. O romance só existe se tiver leitores?
    Esperemos que os leitores não acabem e o romance também não.
    O romance ou qualquer outro género.

    Abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Como tudo na vida, Rosa.

      Sem leitores os escritores podem continuar a escrever mas deixam de publicar...

      E acabam por perder a vontade de escrever "para a gaveta"...

      Eliminar