Falo de "Memórias para o Ano 2000" de José-Augusto França, um livro cheio de pessoas e de acontecimentos. Talvez por isso seja tão pesado - literalmente - e denso (cada página representa duas de um livro normal)...
Devo desde já informar que esta passagem de tempo não aconteceu devido à falta de interesse da obra (nunca pensei em desistir de o ler...). Normalmente estes livros de memórias, são para se irem lendo (a não ser que sejam escritos como se de romances se tratassem...), para irmos fixando os episódios vividos, ao mesmo tempo que situamos as pessoas que vão aparecendo nas suas páginas na época. Há sempre um ou outro acontecimento mais pitoresco, assim como uma descoberta (feliz ou infeliz...) sobre alguém, que até podemos ter conhecido, mesmo que apenas trocássemos um bom dia ou uma boa tarde. E naturalmente, os romances que também vamos lendo, "ultrapassam" este género literário, tanto pela esquerda como pela direita...
Gostei também de conhecer o José-Augusto França, que foi bem mais importante para a cultura portuguesa do que eu pensava. Não conhecia o seu percurso como professor universitário, conhecia apenas o jovem "surrealista", o crítico de arte, o organizador de eventos (exposições, colóquios, homenagens, etc) e o publicista (tinha noção que escrevia muito, mas menos do que a obra referencial que nos deixou...). Também não fazia ideia que a sua passagem pela Fundação Calouste Gulbenkian tivesse sido tão rica, pois foi muito mais que o director da "Colóquio-Artes" (uma revista de referência no mundo artístico, desaparecida no final do século passado...). Até presidiu a Gulbenkian de Paris. Aliás uma boa parte da sua vida foi dividida entre França e Portugal.
Além de romances, gosto muito de ler livros de memórias. Gosto de saber como se vivia noutros tempos e também de tomar contacto com alguns pontos de vista, mesmo controversos, sobre qual foi o papel de várias personagens, em alguns episódios importantes da nossa história. Até por saber que há demasiadas pessoas que se colocam a jeito para ficarem "na fotografia", ocuparem cargos pomposos, mas que não deixam qualquer marca, não fazem rigorosamente nada para mudar, ou para melhorar as coisas à sua volta...
Em suma, uma leitura longa no tempo, mas bastante agradável a espaços, e com a certeza de que ficámos a saber mais algumas coisas sobre a cultura, sobre as pessoas e sobre a história dos lugares.
(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)
Assim ele queria ser: levar seis meses a ler um livro.
ResponderEliminarMas não. Dá-lhe uma febre danada e não descansa enquanto não lhe vê o fim. Depois entristece-se por, daquele livro, não ter mais páginas para ler. Virá depois o tempo das releituras e cada vez relê mais. Leu o Eça de Queiroz aos 13 anos. Quem é que aos 13 anos percebe o Eça? Tem levado uma vida a relê-lo e ainda descobre frases cada vez que lhe pega.
Estas Memórias é mesmo um grande livro. Lembra-se que via a madrugada chegar e chateava-se a fundo de não poder ler mais.
Existe um segundo volume e não sabe se Augusto-França deixa outros para publicar. Era bom q, muito bom mesmo, que assim acontecesse.
«A missão do homem na terra é lembrar-se», lê-se algures por ali.
Normalmente não fico tanto tempo com um livro, mas como foram aparecendo outros livros pelo meio, ele esperou, sem se incomodar muito, Sammy.
EliminarMas do que gosto mesmo é de ter vontade de ler um livro de princípio ao fim (fala da sua qualidade e da boa impressão que nos provoca...).:)
Eu também tenho um desde o verão na minha mesa de cabeceira! Gosto mais de ler no verão, pois adoro sentar-me na minha cadeira, debaixo do guarda-sol a ler um livro, é por isso que gosto de ir à praia sozinha, leio um capítulo, vou ao mar, estendo-me um bicadinho a apanhar sol e depois lá vou eu para debaixo do guarda-sol para o meu livro. Esta semana vou ler o último capítulo e ainda não sei o que ler a seguir.
ResponderEliminarMas não quero leituras densas, quero algo leve e que ne prenda, me vicie!
Bom domingo, beijinho!
Também leio mais no Verão que de Inverno, mas vou lendo sempre, Micaela.
EliminarFoi um ano em que li menos nos transportes públicos (no cacilheiro), pelas razões que todos sabemos.
E qual foi a pessoa/personagem/facto que encontrou mais relevante nesse livro?
ResponderEliminarAbraço
Tirando o autor, o José Augusto-França (é um livro de memórias dele...), há acontecimentos e pessoas muito importantes na história da Gulbenkian (Azeredo Perdigão em particular), alguns amigos como o António Pedro, o Eduardo Lourenço, Fernando Azevedo, entre dezenas de pessoas, Rosa.
EliminarUm aspecto curioso é ele em momentos negativos em vez de referir o nome das pessoas, diz que se esqueceu do seu nome (nota-se bastante durante o PREC em que exerceu alguns cargos políticos com responsabilidade...). É um livro positivo, o França só ajusta contas com a vida.
Outra pessoa importante neste livro é José Blanco (coincidiram em vários cargos, especialmente na Gulbenkian, e é notória a amizade e a lealdade entre ambos, mesmo em períodos críticos).
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