Quando a caça começou a escassear, com o aumento de caçadores um pouco por todo o lado, foi decretada a redução dos dias para se correrem os campos em busca de animais, assim como o número de "peças" abatidas (só se podia caçar à quinta, aos domingos e feriados). Mas nem mesmo com estas medidas foi possível "equilibrar" as coisas...
Algumas pessoas com mais poder económico acharam por bem criar zonas privadas de caça (algo que sempre existiu durante a ditadura nas grandes propriedades do Alentejo, normalmente reservadas aos donos, amigos e convidados...), em zonas de mata vedadas, como a de Torre Bela.
Com esta "inovação", a caça começou a perder o interesse, pelo menos para os verdadeiros caçadores, que gostavam da "luta" que os animais em liberdade lhes proporcionavam. O meu pai, por exemplo, foi caçador, mas nunca se tornou "cooperante" destes espaços, criados sobretudo para os "falsos heróis", falhos de pontaria, que gostavam mais de tirar fotografias com os animais abatidos que de dar gatilhadas (os que podiam até faziam safaris em África, só pelo gozo de tirarem retratos como o polémico do Rei de Espanha, com um elefante caído a seus pés...).
Um amigo, da geração do meu pai, aos poucos foi deixando de caçar, desiludido com esta nova forma de se caçar. Ainda fez parte de uma dessas "cooperativas" de caça, que compravam centenas de animais que depois alimentavam nesses espaços reservados, mas aquilo não era para ele. Sempre gostara de caçar perdizes, mas perdeu esse prazer, porque as aves "alimentadas" eram cada vez menos ligeiras, quase que se punham a jeito de se tornarem "troféus de caça".
Mas o mais grave desta questão, não é este episódio em si, passado na Torre Bela. É continuarmos a viver com uma casta de pessoas, ricas e poderosas, que acham que tudo tem um preço. E como normalmente têm dinheiro de sobra, pensam que podem comprar tudo e todos (inclusive ministros, deputados, presidentes de câmaras, de juntas de freguesia, autoridades locais, e tudo o que lhes apareça à frente...), para obter aquilo que querem. O mais caricato, é que normalmente conseguem "levar a água ao seu moinho"...
Embora se fale pouco nisso, eu continuo a pensar que quase todos os "ismos" negativos da nossa sociedade assentam nos "resquícios feudais" destes "senhores", que não só negam a nossa Constituição (que querem alterar através dos partidos de direita...) como também a própria Declaração Universal dos Direitos do Homem, que nos diz, muito bem, que todos somos iguais perante a lei, em dignidade, em direitos e em deveres.
(Fotografia de Luís Eme - Almada)
"pensam que podem comprar tudo e todos" e, na maioria dos casos, até compram...
ResponderEliminarEntretanto vertem lágrimas de crocodilo as associações de caça e, pasme-se, até os proprietários ds Torre Bela. Onde chega a hipocrisia!
É neste campo que as coisas deviam mudar mesmo, Severino.
EliminarMas a justiça é demasiado lenta, até para as "reformas" que deviam ser feitas.
E em relação ao cinismo e a hipocrisia, não há nada a fazer, até porque quase todos fingem ser o que não são...
É de lamentar que assim seja, será que alguma vez isso vai mudar?
ResponderEliminarAs Declaração Universal dos Direitos do Homem acho que é só bonita no papel.
Os donos do mundo, não fazem caso disso! Nem outros abaixo deles.
Devia mudar, Micaela.
EliminarCom uma justiça mais atenta, rápida e justa, seríamos um país muito melhor.
Os meus tios do lado materno foram caçadores, daqueles que percorriam kms pelas serras para caçar um coelho ou uma perdiz.
ResponderEliminarDepois emigraram para os States, levaram os filhos, venderam as espingardas e acabou-se a caça.
Do lado paterno nem pelo pensamento alguma vez lhes passou semelhante ideia.
O que se passou na Torre Bela foi um massacre de animais encurralados.
Um crime!
Abraço
Pois foi, um crime dos grandes, Rosa.
EliminarO meu pai como era caçador e ainda me quis "caçar", assim como ao meu irmão. Mas não demostrámos qualquer interesse, e ele não insistiu...