quarta-feira, dezembro 09, 2020

Nem Dentro, nem Fora, nem Fora nem Dentro...


Estava no lado de fora da mercearia, que por estes tempos também vai formando filas, a olhar para o senhor que estava estrategicamente colocado à entrada da loja (incomodando quem entrava e quem saía...), que fumava um cigarro, ao mesmo tempo que ia trocando uma prosa com a esposa, que estava a ser atendida.

Ninguém se mostrou incomodado com aquela quase arte, de "estar fora deixando sempre um pé dentro". Conhecia o casal de vista, quase que moravam no meu bairro e eram pais de uma amiga antiga que não vejo há anos (o divórcio com um amigo comum ditou a sua "fuga" de Almada...).

Conseguia dois em um: estar sem máscara e espalhar o cheiro do seu cigarro no interior do pequeno mercado, que só permitia a permanência de três clientes de cada vez na quase sala.

Naquele momento olhei para a varanda que foi do Victor (fazia questão de ter o cê no nome...) e recordei os nossos tempos de tertúlia de café. Era o único fumador do grupo e quando se decretou a proibição de fumar em recintos fechados, ele lá se tinha de levantar para vir fumar mais "um prego" (a expressão era dele) para a rua... 

No Inverno costumava ficar mais dentro que fora, para fugir ao frio, deixando que o perfume do seu cigarro chegasse quase até à nossa mesa. Raramente aparecia alguém a chamar-lhe a atenção. Nada que o incomodasse, diga-se de passagem...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


4 comentários:

  1. Eu talvez lhe chamasse a atenção...ou não! :)

    Abraço

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    1. Eu estranhei ninguém dizer nada, Rosa.

      Embora saiba que os donos das lojas ou caixas de supermercado raramente chamam a atenção às pessoas (é uma forma de se manterem fora dos conflitos...).

      Há pouco tempo estava numa caixa de supermercado e um fulano estava a escolher coisas que estavam rente à caixa. Há uma altura estava praticamente colado a mim. Disse a senhora da caixa para chamar a atenção do senhor para manter o distanciamento. Ela não disse nada. O fulano começou logo a ser desagradável. Claro que nunca lhe respondi. Apenas mantive o diálogo com a caixa, que se limitou a abanar os ombros...

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  2. A mulher não disse nada para não perder clientes! São uma cambada de irresponsáveis! No outro dia, na rua, um homem com a máscara no queixo, queria uma informação sobre uma rua. Segui em frente e fiz de conta que era surda. Era o que me faltava falar com uma pessoa sem máscara!

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    1. Há muita falta de respeito pelo outro, Maria.

      Esse é um dos maiores flagelos sociais (não tem nada a ver com cores ou sexo, apenas com egoísmo e manias...).

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