A mulher passou por mim e pediu-me um cigarro, disse que não tinha. Chamou-me mentiroso com um ar trocista, enquanto avançava e se metia com outro, com a mesma história.
Foi assim até ao fim da linha, sem conseguir cravar um cigarro.
Foi então que lamentou em voz alta: «Que gente tão amarelinha.»
Ninguém lhe respondeu mal, muito menos a mandaram calar. Vim a saber depois que não podiam. Isso era um convite para que ela usasse outro tipo de linguagem, quase pornográfica, que muitas vezes deixava de ser divertida e passava a ordinária.
Foi salva por alguém que tinha estado a fumar lá fora e assim que entrou, estendeu-lhe um cigarro daqueles que se dão sem palavras.
Ela agradeceu com uma vénia e saiu, decidida a fazer-se à vidinha. Reparei que deixou os espectadores quase em suspense, como se tivessem receio de que ela se arrependesse e voltasse atrás.
O João quebrou o silêncio e disse-me que ela não era de cá. Tinha uma tia na rua de cima com quem vinha almoçar de vez enquanto. Aproveitava quase sempre a viagem a Almada para ver se continuava tudo no mesmo sitio por ali, ao mesmo tempo que, se lhe dessem espaço, "agitava um pouco as águas".
(Óleo de Xia Junna)
Durante uns três ou quatro anos havia aqui um mulher na casa dos 40 que todos os dias se postava um pouco à frente da minha casa, junto à porta de uma pastelaria a pedir um cigarro. E também insultava as pessoas. Eu chegava a dar a volta pela rua de trás, para não me cruzar com ela. Depois um dia desapareceu.
ResponderEliminarUm abraço
De vez em quando surgem-nos uns "loucos", que embora nos possam fazem sorrir, por momentos, têm também a sua parte desagradável, Elvira...
ResponderEliminar