Era difícil enfrentar aquele olhar que quase me fustigava, mas não me desviei um milímetro. Acho que o fiz mais pela surpresa que por outra coisa qualquer.
Não passava de um jovem com idade para ser meu filho, completamente desconhecido. Provavelmente travava uma "batalha" contra ele próprio, como é próprio destas idades, e pelo caminho tentava envolver quem lhe surgia pela frente. Ainda o tentei desculpar, dizendo para os meus botões que ele estava a olhar para o "mundo", que se encontrava logo ali, atrás de nós.
Antes do metro aparecer ele resolveu "entrar noutro filme", Baixou a cabeça e escondeu o olhar de mau rapaz.
Enquanto esperava não fui capaz de ficar indiferente ao jovem que estava agora de costas. Pensei que a vida raramente é aquilo que sonhamos. Embora pouco ou nada nos valha tentar culpar os outros pelas ondas de fracasso que nos rodeiam.
Ele, mesmo que não tivesse dado por isso, ainda tinha todo o tempo do mundo para dar a volta por cima e aproximar-se do território dos sonhos.
O que não resolve nada, mesmo nada, é olharmos para os outros como se nos devessem alguma coisa, enquanto continuamos a caminhar sós na direcção do vazio...
(Óleo de Guy Troughton)
Às vezes deparamos com jovens assim. Que nos olham como se fossemos os culpados de todos os seus problemas. E nos deixam um certo mal estar, mesmo que tenhamos a consciência da nossa não-culpa.
ResponderEliminarUm abraço e uma boa semana
É o nosso mundo, Elvira, no seu esplendor...
EliminarExcelente texto que me disse muito, muito mesmo! E nem irei acrescentar mais nada...
ResponderEliminarGostei muito da tela. O formato oval de terra batida, o sofá num local improvável, o pássaro de olhar atento, é como se ali fosse o ponto de contemplação do mundo, e o caminho dos que passam sós pela vida em direcção do nada...
Um abraço.
Janita
Tento sempre "casar" a imagem com o texto, o que nem sempre se consegue, Janita. :)
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