Uma senhora de idade falava, falava, sem vontade nenhuma de abandonar o balcão da farmácia. Em vez de me incomodar olhei com a cumplicidade possível a farmacêutica, por perceber que a cultura do mundo dos medicamentos era insuficiente para o bom exercício daquela profissão. Exigia-se cada vez mais uma grande capacidade de dialogo, para que os clientes nunca sentissem que estavam a ser empurrados pela porta fora.
Sei que eles (mais elas...) não se contentam com os comprimidos para a tensão ou a pomada para o reumático, querem um tempo para contar pedaços das suas vidas, partilhar dores, e se possível, receber ainda um parecer clínico. Porque nas visitas aos hospitais e centros de saúde, com as mudanças operadas nos últimos anos, não são tão bem tratados como na farmácia, que é quase a mercearia do bairro...
Ela sorriu com os olhos cansados, como se me quisesse dizer que não podia "despachar" a senhora, que precisava tanto de trocar umas ideias sobre as suas doenças.
Embora tivesse a senha seguinte, fiz de conta que tinha todo o tempo do mundo.
Embora tivesse a senha seguinte, fiz de conta que tinha todo o tempo do mundo.
E pensei: maldita solidão... Eu sei que falar com as paredes é muito diferente de conversar com pessoas...
(Óleo de Irena Jovic)
A solidão é tramada. Ela mata mais que qualquer doença e é o que mais temo. Reparo que homens e mulheres, da minha faixa etária, alguns mais velhos e outros nem tanto, metem conversa com qualquer pessoa, na rua, na paragem do autocarro, na saída da igreja. É como se precisassem de ouvir outra voz para saberem que são gente e estão vivos.
ResponderEliminarUm abraço
É verdade, Elvira.
EliminarE precisam mesmo de ouvir outra voz e de receber um sorriso.
O Luís consegue sempre pinturas lindas, para ilustrar os seus textos.
ResponderEliminarIsto, quando não são fotos suas, igualmente muito bem escolhidas.
Na farmácia onde costumo ir aviar a minha medicação, única aqui na zona, tenho assistido a episódios como o que acabou de contar.
Eu própria já tenho feito desabafos quando a ocasião se proporciona e não tenho ninguém atrás de mim para ser atendida.
Não é bem como as 'boticas' de antigamente, mas quase.
Depois...nem todos têm acesso a este meio de comunicação. Já me tenho referido à blogosfera como uma forma de terapia.
É triste? Não sei! Mas sei que é muito bom, depois de um dia de trabalho, vir visitar a vizinhança virtual...
Mas não há nada como uma voz um sorriso verdadeiro, Janita...
EliminarAmei seu cantinho!!!!!!!!! Seguindo!!!!!!!!!!! Abraços
ResponderEliminarhttp://gigicandy29.blogspot.com.br/
Olá Gigi. :)
EliminarVizinhança virtual? mas haverá maior solidão do que a vizinhança virtual?
ResponderEliminarHá sim, Seve!
EliminarÉ não ter vizinhança alguma!!
:)
Janita
Gosto da forma como relata pedaços da nossa sociedade.
ResponderEliminarAbraço
É que a vida nos mostra, aqui e ali, Rita...
EliminarAcontece (quase) sempre que vou à farmácia... Dói, não é? Dói...
ResponderEliminarE torna-nos mais tolerantes, Graça.
Eliminara solidão é triste quando não é procurada.
ResponderEliminar:(
Triste é pouco, Piedade...
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