Na semana passada estive com um amigo poeta, com obra publicada, que me confessou estar a viver um dos maiores dramas da sua existência, pois há largos meses que não consegue escrever um poema, por mais pequeno que seja.
Para o cidadão comum isto até pode parecer quase anedótico e servir para dizer que os poetas não passam mesmo de uns fingidores...
Mas qualquer "criador" percebe bem o drama deste meu amigo.
António Lobo Antunes fala muito disso nas suas entrevistas. A transcrição que faço da revista "Visão" de Junho diz quase tudo sobre o acto de criar:
«Sinto-me como um cão à
procura de um osso enterrado que não sabe onde está. Cavo aqui com as patas da
frente, cavo acolá e nada. Se calhar acabaram-se os ossos, se calhar acabei. É
sempre assim e o medo de não ser mais capaz é horrível. Um vazio, uma angústia.
Não sei fazer mais nada, desde que me conheço não faço mais nada. Sento-me
nesta cadeira, sento-me naquela. Eu só queria sentir qualquer coisa a inchar cá
dentro, ainda não bem palavras, uma coisinha qualquer, mesmo mínima, que
depois, pouco a pouco, se transforma, cresce, ganha sentido, vai aparecendo.»
(Óleo de Everett Shinn)
interessante o teu artigo, o meu último poema fala disso da falta de inspiração, mas é interessante que por vezes ela falta e ressurge pelas mais variadas situações.
ResponderEliminargostei muito de ler-te.
um beijo
:)
Pois é, e toca a todos, Piedade. :)
EliminarDeve ser um desespero sem tamanho.
ResponderEliminarUm abraço
É muito frustrante, Elvira...
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