domingo, fevereiro 16, 2025

Carlos Paredes, entre o Génio e o Improviso


Um dos grandes génios da nossa música faz hoje 100 anos.

Curiosamente escolheu um instrumento, que antes dele, estava quase limitado ao fado. Sei que estou a exagerar, mas apetece-me dizer que a guitarra funcionava muitas vezes, apenas como "dama de companhia", dos cantadores e cantadeiras de fado.

Com Carlos Paredes chegou ao cinema, à dança e a outros géneros musicais, com improvisações até no jazz...

Numa das últimas entrevistas que Carlos deu ao "Público" (18 de Março de 1992), explica muito bem as diferenças entre ele e os guitarristas de fado, falando inclusive de Amália:

«O Charlie Haden é um homem do jazz, do contrabaixo, e fez-me umas propostas interessantes. Eu limitava-me a introduzir também a guitarra, improvisando. Se eu hoje quisesse acompanhar a Amália não conseguia. Os guitarristas que a acompanham são especialistas que, à sua maneira, criam coisas novas. Eu já não seria uma pessoa para isso. O mais certo era ter de desistir logo. É como se tocássemos instrumentos diferentes.»

É verdade, o "instrumento" de Carlos Paredes, foi-se tornando, com o tempo, cada vez mais diferente do dos outros guitarristas, para felicidade de todos nós.

(Fotografia de Luís Eme - Barreiro)


6 comentários:

  1. Faria hoje 100 anos este grande Senhor da guitarra portuguesa.
    Prestei-lhe a minha homenagem no meu blog, com os Verdes Anos.
    Também vi este filme.

    Abraço

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    1. Merece todas as homenagens, porque sempre quis ser apenas um de nós, Rosa.

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  2. Um génio de simplicidade que nos dá a alegria, em tempos tão difíceis. de sermos portugueses. Um homem para ser escutado, tal como escreveu Ferreira Fernandes: «No dia em que me cruzar com o russo que me atirar à cara o “Guerra e Paz” e o americano que me tente ofuscar com o Grand Canyon, eu pergunto-lhes: “Têm dois minutos e vinte e sete segundos?” Se não, pior para eles. Se sim, ficarão agradecidos para o resto da vida. Ponho-os a ouvir “Mar Goês”.
    Mar Goês é a prova que sim. Sim, um dia os portugueses entraram em pequenos barcos e tornaram o mundo grande, porque completo. Havia de ser um amanuense do Hospital de São José, um tímido com andar estranho, que me confirmaria que já houve portugueses fortes. Os dedos de Carlos Paredes são como os lenhadores do pinhal de Leiria, são como o marinheiro que subia à gávea, são como o capitão que dizia por ali e não cedia.»

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    1. É verdade, Sammy.

      Mas não acho que seja bem o "retrato" português. Era muito bom e muito simples, o que não casa bem com o "génio" nem com o artista português...

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  3. Carlos Paredes: O talento e a simplicidade juntos. Arrepia ouvir a guitarra que ele abraçava para tocar.
    Uma boa semana.
    Um abraço.

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    1. É isso mesmo, conseguir fazer com que a guitarra se libertasse do fado e fosse por esse mundo fora, à procura de outros sons e de outras vozes, Graça.

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