quarta-feira, fevereiro 12, 2025

A arte de contornar o "não"...


Se há uma área onde o normal é recebermos o "não", como primeira resposta a qualquer projecto que seja apresentado, é a Cultura.

Estava a ver o programa biográfico "O Portugal de...", com a actriz Joana Barrios, e, quando ela falou que passa o tempo a "contornar o não", levou-me de viagem pelo tempo, fez com que recordasse as muitas coisas que fiz por teimosia, apenas por receberem com primeira reacção, o tal "não". Mesmo que raramente nos seja dita essa palavra, nua e crua.  Sim, rapidamente percebemos que a palavra "não" tem milhentos significados...

Almada teve durante muitos anos um vereador da Cultura que ficou conhecido como o "nim", porque embora não usasse a palavra "não", raramente se comprometia com o que quer que fosse. Parece que ainda o estou a ouvir dizer, "vamos ver", ou "isso é muito interessante", que qualquer bom conhecedor da personagem, percebia que o "não" estava garantido...

É também por estas coisas que gostei muito de ser activista cultural, de ter contribuído para a realização de centenas de iniciativas, por ser um "artista" na arte de "contornar o não" (pois é, a teimosia nem sempre é defeito...).

Hoje essa "pessoa" já não existe. Às vezes tenho saudades dela, outras nem por isso. Sei que se "ela" tivesse recebido ontem, como resposta a um e-mail, menos de um décimo do apoio necessário para um actividade importante que pretendo realizar em 2025, não diria o que eu disse, não responderia: "grato pelo apoio".

É nestas pequenas coisas que descobrimos que a idade nos torna mais flexíveis, menos radicais...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


Sem comentários:

Enviar um comentário