sábado, fevereiro 08, 2025

«Não sei se alguém hoje, quer ter uma gravata quando for grande»


Na mesa onde se discute o "sexo dos anjos" mais vezes do que o costume, desta vez falou-se da facilidade com que hoje se pode escolher o que queremos ser amanhã.

Foi a Clara que começou aquele diálogo, quase com um "no meu tempo não era assim", feliz por se ter evoluído muito na educação, por hoje haver mais escolhas, mais vagas, para tudo. Houve quem a entendesse mal, eu nem por isso.

Claro que o Jorge também tinha razão, cada vez há menos jovens para as vagas que existem nas universidades e politécnicos. Isso dá-nos uma outra ilusão...

O Rui foi ainda mais claro, que todos nós. Falou do seu caso. Acabou o 12.º ano e teve de ir trabalhar, porque não lhe apeteceu ir para uma privada, pagar um balúrdio de dinheiro. E abrir um precedente lá em casa, onde todos estudavam no ensino público. Para entrar nos cursos que queria (História e Comunicação Social) tinha de ter uma média superior a 17 valores. Vi-me quase ao espelho, os meus quinze valores de média final (com a PGA) só davam para entrar em cursos "manhosos"...

Neste aspecto a Clara estava certa. Não valia a pena falarmos se se sabia mais ou menos, até porque, provavelmente, todos tivemos tios que diziam que a quarta classe  antiga valia mais que o quinto ano (nono), com se fosse possível fazer essas comparações...

Foi quando o Alberto, que fingia muitas vezes que não ouvia as nossas conversas, mesmo que todos gostássemos de "parlar à italiana", de trás do balcão teve uma daquelas saídas que nos deixou todos a pensar e sem sabermos muito bem o que dizer: «Não sei se alguém hoje, quer ter uma gravata quando for grande. Eu queria...»

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


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