quinta-feira, fevereiro 06, 2025

Uma boa conversa sobre a falta de "planícies" nas cidades...


Estava quase a entrar no quintal, quando vi um homem sentado no degrau do portão, a fumar um cigarro.

Normalmente encontrava uma ou outra mulher ali sentada, a descansar, a meio da subida, demasiado íngreme e longa, com o saco das compras ao lado. Desviava-me para entrar, dizendo-lhes para continuarem sentadas a descansar, quando se preparavam para seguir viagem.

O fumador fez-me lembrar um tio emprestado, que também esteve ali sentado a fumar um cigarro "às escondidas" (a mulher e o médico diziam que lhe fazia mal, só que como lhe sabia bem, nunca deixou o vício...), a quem fiz companhia. 

Estivemos por ali a conversar, há uns bons vinte anos. O tempo é aquela coisa que todos sabemos...

Ele era uma pessoa divertida e entre outras coisas, depois da passagem de algumas pessoas de idade, por nós, disse-me que todos aqueles que tivessem mais de sessenta anos deviam ser proibidos de passar por aquela rua, a pé, tanto a descer como a subir. E acrescentou, que com o passar dos anos, descer tornava-se mais penoso que subir, por causa dos joelhos. E quem tenha jogado à bola, como ele, ainda pior...

Mas o melhor estava ainda para vir, quando ele quis quase sustentar a tese sobre "proibição" de uma forma alegre: «Esta descida é tão vertiginosa, que ainda aparece aqui alguém com dores nos joelhos que cai na tentação de, em vez de descer a rua, normalmente, começa a rebolar até lá baixo.»

Soltámos ambos uma gargalhada, que fez com as mulheres da casa viessem à janela e ele tivesse de apagar o cigarro à pressa, sem escapar de ouvir boas da esposa, enquanto me piscava o olho, quase a querer dizer-me: "deixa-as falar, ninguém me tira o prazer de uma boa cigarrada"...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


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