Voltei atrás, sem perceber muito bem o que ela queria.
A senhora só queria chegar a casa e devia estar com alguma dificuldade, embora morasse apenas a setenta, oitenta metros daquela esquina.
Dei-lhe o braço de uma forma desajeitada, ela disse-me para deixar o braço normal e depois agarrou a manga do meu casaco e seguimos na direcção da sua casa. Para me descansar e perceber que não morava no fim da avenida, disse que ficava ao lado dos "Pinto's (barbearia)".
E depois nunca mais parou de falar. Fiquei a saber que estava cega de uma vista e da outra tinha um glaucoma e outro problema qualquer, ou seja devia ver pouco mais que sombras... Também me falou de um tratamento inovador, que usava o seu próprio sangue. Fiz-lhe poucas perguntas, uma delas foi se vivia sozinha. Disse-me que vivia com uma senhora de 93 anos. Quase que me silenciou...
E depois chegámos quase à sua porta. Tinha um carrinho de compras, tentei ajudá-la, foi quando percebi que estava carregado. Ela disse-me que não era preciso, acrescentando que o carro era a sua bengala.
Deixei-a e fiquei a pensar que nos queixamos de mais, e que nem sempre temos noção "do que é sofrer"...
(Fotografia de Luís Eme - Almada)
Ah, pois é!
ResponderEliminarAs cidades estão cheias de gente desvalida.
ResponderEliminarNas terras pequenas é mais fácil envelhecer!
Abraço