quarta-feira, fevereiro 19, 2025

Nem sempre temos noção "do que é sofrer"...


Ainda não me tinha acontecido uma coisa parecida, nas ruas, uma senhora chamar-me e pedir-me o braço.

Voltei atrás, sem perceber muito bem o que ela queria. 

A senhora só queria chegar a casa e devia estar com alguma dificuldade, embora morasse apenas a setenta, oitenta metros daquela esquina. 

Dei-lhe o braço de uma forma desajeitada, ela disse-me para deixar o braço normal e depois agarrou a manga do meu casaco e seguimos na direcção da sua casa. Para me descansar e perceber que não morava no fim da avenida, disse que ficava ao lado dos "Pinto's (barbearia)".

E depois nunca mais parou de falar. Fiquei a saber que estava cega de uma vista e da outra tinha um glaucoma e outro problema qualquer, ou seja devia ver pouco mais que sombras... Também me falou de um tratamento inovador, que usava o seu próprio sangue. Fiz-lhe poucas perguntas, uma delas foi se vivia sozinha. Disse-me que vivia com uma senhora de 93 anos. Quase que me silenciou...

E depois chegámos quase à sua porta. Tinha um carrinho de compras, tentei ajudá-la, foi quando percebi que estava carregado. Ela disse-me que não era preciso, acrescentando que o carro era a sua bengala.

Deixei-a e fiquei a pensar que nos queixamos de mais, e que nem sempre temos noção "do que é sofrer"...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


2 comentários:

  1. As cidades estão cheias de gente desvalida.
    Nas terras pequenas é mais fácil envelhecer!

    Abraço

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