sexta-feira, setembro 20, 2024

«Sou anarquista mas não sou parvo»


Estávamos a falar de comércios, da gente que além de passar o tempo a explorar os outros, ainda se dirige aos clientes como se lhes estivesse a fazer um favor. Normalmente acabam mal. Só conseguem subsistir se não existir concorrência nas proximidades. 

Estava a ouvir e a pensar, Foi o que se passou durante mais de vinte anos na aldeia dos meus avós, até aparecer o vivaço do Tio Zé David, quando abriu o seu "tasco"(naquele tempo estes espaços estavam divididos em duas partes, a mercearia de um lado e a taberna do outro...). Ele além de vender as coisas mais baratas, estava sempre de cara alegre, pronto para animar a festa. 

Eu adorava fazer recados à avó, só para ouvir as suas "graçolas"... 

O outro senhor não fechou a "loja" , apenas por orgulho, mas  foi tendo cada vez menos clientes...

Entretanto o Carlos trouxe para a mesa o exemplo do Fernando, que tinha um café, cuja esplanada abraçou várias tertúlias ao longo dos anos. Houve uma vez um cliente que, depois de mais um aumento da bica, chateado, disse-lhe que se ele fosse um verdadeiro anarquista, não vendia as coisas ao mesmo preço dos outros.

Fernando não era homem para perder tempo com discussões estéreis, por isso limitou-se a dizer-lhe: «Sou anarquista mas não sou parvo.»

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


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