Escrevi: A "aparição" da Leonor recordou-me que gosto de mulheres que gostam de mulheres, tal como eu. O que pareceu uma coisa estranha, foi-se tornando normal, à medida que iam aparecendo outros rostos femininos a quererem colar-se ao papel.
Não, não tinha nada de estranho, muito menos tinha qualquer relação com preferências sexuais. Olhava para elas sobretudo como pessoas. E as mulheres que se iam soltando da minha cabeça, eram "gente boa"...
O mais curioso, foi, ter recuado no tempo enquanto escrevia. Lembrei-me da Carla, por quem tive uma ligeira paixoneta (talvez por ela me dar para trás). Demorei algum tempo a perceber que ela gostava de uma amiga comum, que era muito menos feminina que ela (os seus traços físicos dominantes eram o cabelo curto, as roupas largas e um andar sem curvas na rua). Além de eu ser distraído, nessa altura - nos finais dos anos 80 -, a sociedade obrigava-as a serem discretas...
Depois lembrei-me do Francisco (José Viegas), que foi o principal responsável por o Pedro Gama (personagem principal do meu primeiro e único romance...) ter sido trocado por uma mulher, depois da sua separação. Além de bom conversador, o Francisco era um bom conselheiro. Tivemos conversas memoráveis no seu gabinete de trabalho, em Benfica, sobre livros, cinema e futebol...
Voltei ao "caderno das ficções" e pensei que tinha ido longe demais ao escrever: Claro que não falo das mulheres que têm um homem dentro delas, que cortam o cabelo à escovinha, escondem as curvas do corpo com roupas de homem e andam de forma desengonçada.
Não, nada disso. A ficção pode, e deve ser, pura e dura. E cada personagem pode esconder dentro de si, várias pessoas que conhecemos...
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)
Esse caderno de ficções deve estar a ficar muito gostoso de ler.
ResponderEliminarUma boa semana.
Um abraço.
Tem dias, Graça. :)
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