segunda-feira, setembro 23, 2024

«É a primeira?»


Talvez ele me quisesse fazer aquela pergunta há mais tempo. Talvez.

Mas naquela tarde, perguntou mesmo, chamou-me e quis saber se aquela mulher era a minha esposa. Disse que sim. E ele, ainda curioso, foi mais longe: «É a primeira?»

E eu respondi com um sorriso: «É a primeira, e única. Faço parte do "clube" dos homens que só casam uma vez na vida.»

Ele devolveu-me o sorriso e despedimo-nos com um até já.

Os nossos cafés ficavam separados por menos de uma vintena de metros. Quando me sentei na esplanada, ao lado da minha companheira, fiquei a pensar na questão, colocada por aquele homem que conhecia há mais de trinta anos. Talvez eu soubesse mais coisas da vida dele que ele da minha. Talvez.  

Curiosamente, ou não, ele pertencia a um "clube" ainda mais restrito que o meu, o dos homens que nunca casaram. 

Havia várias explicações. Mas a única, com alguma lógica, era ele ser demasiado livre para se deixar prender por uma instituição, que fingia fazer as pessoas felizes. 

Quando o conheci, andava sempre bem vestido (ainda anda, continua a usar calça e casaco, mesmo que hoje apenas faça o caminho de casa até ao café...) e sei que tinha duas ou três namoradas, mulheres separadas ou viúvas. Não tinha problemas em afirmar que nunca se metia no meio de casamentos, quando o tentavam colar a algumas senhoras casadas, em algumas brincadeiras de mau gosto. Como homem livre que era, só procurava mulheres livres...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


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