sábado, abril 27, 2024

Também é um problema da democracia...


Tal como sempre se falou da "crise no teatro", também é histórica a "crise no associativismo".

Infelizmente são crises reais, por motivos diferentes. E de alguma forma estão ambas ligadas à democracia, mais pelo que não se fez do que pelo que se fez...

A preocupação de se criarem públicos para as actividades culturais ficou-se pelo caminho, algures entre as escolas e as instituições que tutelavam a Educação e a Cultura.

É difícil gostar do que não se conhece (a não ser que sejam espectáculos cuja comunicação seja mais directa com as pessoas, como acontece com as comédias...), do que não se sabe que também serve para pensar e nos ajudar a viver...

Em relação à "crise do associativismo", ela é sobretudo humana. Se antes de Abril era fácil encontrar, pessoas com "vontade de servir", hoje aparecem pessoas é com "vontade de se servirem"... Isso explica a crise do associativismo (a excepção são as grandes instituições, onde aparecem sempre várias listas de dirigentes, porque os interesses que se escondem por detrás, económicos, políticos ou desportivos, são mais que muitos...).

Pelos dados conhecidos, hoje vai acontecer "Abril" no Porto, com o fim do reinado de 42 anos de Pinto da Costa (que nos últimos anos se escuda nos muitos títulos conquistados, mas que se revelam cada vez mais insuficientes...). Este é o nosso exemplo maior do que o poder faz as pessoas, não as deixando sair na hora certa, desbaratando, tantas vezes, tudo o que se fez de positivo. 

Em Almada existem pelo menos meia-dúzia de colectividades que são presididas pela mesma pessoa há mais de vinte anos, fazendo com que estas caiam no marasmo, quase por razões naturais. Isso acontece porque a motivação deixa de ser a mesma, ao mesmo tempo que se vai ficando cada vez mais colado "à cadeira do poder" (sei do que falo porque presidi uma colectividade durante oito anos, mas por sentir na pele os "malefícios do poder", consegui sair pelo próprio pé...). É esta colagem que faz com que não se criem condições para que exista, pelo menos, uma alternativa de mudança, para que tudo se torne mais respirável e para que exista espaço para a diferença...

Infelizmente as pessoas fingem não perceber o que se passa à sua volta. E pior ainda, fingem não ver os vários maus exemplos alheios, que poderiam muito bem servir de "espelho"...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


4 comentários:

  1. Tudo o que seja "eternização" nos lugares não é positivo.
    Também vejo isso no Parlamento.

    Abraço

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    1. Pois não, Rosa.

      criam-se vícios, calos e coisas piores...

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  2. Onde quer que seja o poder prolongado é viciante e viciado...
    Uma boa semana.
    Um abraço.

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