Gostei de ler (como de costume...) o artigo de opinião de Susana Peralta, no Público" de ontem, intitulado, "As donas de casa não são donas de nada", em que historiou a vida familiar das avós e tias, que acaba por ser comum a muitos de nós, que descendemos de habitantes das aldeias portugueses, onde por exemplo, a electricidade só chegou depois de Abril...
À mulher estava destinado um papel secundário na sociedade. E isso fazia-se sentir logo no acesso ao ensino primário, que se não era para todos os meninos, menos seria para todas as meninas... E nem vale a pena falarmos do ensino secundário ou da universidade...
É muito importante termos memória (mesmo que exista tanta gente a querer fugir dela, por representar uma vida de pobreza...). Foi por isso que gostei de ler a Susana. Sim, as minhas avós, materna e paterna, também não foram à escola. Mas o mesmo se passou com os meus avôs. Claro que eu sou da geração anterior da economista (devo levar-lhe uns vinte anos de avanço...), os seus avós já são da geração dos meus país, que embora fossem confrontados com os mesmos problemas, puderam lutar mais pela aprendizagem, nem que fosse já "fora de horas" (como ela refere em relação a uma tia...).
Não posso deixar de transcrever a parte final do seu texto, que diz muito do que se avançou e também dos defensores do "estatuto da dona de casa":
«O enorme contraste entre a minha vida e a das mulheres da geração que me precede na família é revolucionário, no sentido Goldiano e no sentido de Abril. Neste lugar de fala que granjeei, penso muito na voz que elas não tiveram: apesar da inteligência e fino espírito analítico de algumas delas, o país decidiu encerrá-las numa vida de donas de casa na qual, na verdade, não foram donas de nada.
A revolução silenciosa de Claudia Goldin demonstra que a participação de pleno direito das mulheres no mercado de trabalho. é a conquista de um lugar na sociedade, o domínio da fertilidade e a libertação da tarefa de cuidar, que não é paga, nem valorizada. Uma história de poder. As mulheres poderosas metem medo aos machos fracos que as querem mandar para casa.»
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)
É questão de opinião definir o que seja um papel secundário ou de outro qualquer nível.
ResponderEliminarAgora que a proliferação do comentário feminino se juntou ao abundante comentário masculino, a diferenciação para o soalheiro tradicional está a esbater-se rapidamente, perdendo o colorido e com a gloriosa aquisição de ser inclusivo.
O 'acho que', o 'até pode induzir-se', soma-se ao institucionalizado 'digamos' para uma insuportável poluição sonora.
Penso que o que está em cada não tem nada a ver com opinião, mas sim de direitos e deveres, José. E constitucionais.
EliminarSe a mulher é igual ao homem (não estou a falar de fisiologia...), não precisa de estatuto nenhum de dona de casa. Não precisa de ser menorizada por meia-dúzia de conservadores.
(causa)
Eliminar«É questão de opinião definir o que seja um papel secundário ou de outro qualquer nível.»
ResponderEliminarTalvez, até um certo ponto apenas. Mas, independentemente dos detalhes finos de tal análise, a questão não é essa. Aquilo de que se trata realmente é da liberdade de poder escolher o seu papel (e de viajar livremente, já agora) e de ver reconhecidos os seus méritos. E era precisamente essa liberdade e esse reconhecimento que eram vedados a todas as mulheres. Não nos enganemos, pois é essa liberdade que esses medíocres senhores pretendem importunar.
Desenterrar um passado que foi ultrapassado no seu tempo - cedo ou tarde, é outra questão - para denegrir quem hoje dê voz a não ser a liberdade o direito ao abuso, nem a tolerância o caminho da licença, é um mau serviço ao futuro.
EliminarPior fica a cena, quando esse passado desenterrado é o presente em sociedades para as quais se pede tolerância e quando, não raro, se requer que por cá possam exercer suas culturas!
Que "abuso" e que "licença" são esses - pode explicitá-lo, por favor?
EliminarQuanto ao segundo parágrafo, se os autores do livro estivessem realmente preocupados com a sonegação de direitos às mulheres imigrantes vindas de países com outras culturas, não tinham mais do que escrever um livro dedicado ao tema. Melhor ainda, podiam voluntariar-se para fazer trabalho cívico no terreno. É que se fosse esse o caso, as leis nacionais já as defendem, o que falta é ir ter com elas para as ajudar e ensinar a fazê-las valer.
Exactamente, Marsupilami.
EliminarÉ uma questão de liberdade e de igualdade.
Impôr quotas de mulheres em cargos é uma liberdade e uma igualdade do caraças!!!
EliminarTalvez quotas de costureiros e empregados de limpeza esteja na agenda de um futuro mais radioso...
Estamos a falar do "estatuto da dona de casa", José. Não de quotas...
EliminarO estatuto da dona de casa, sempre foi o estatuto de quem tinha meios e vontade para priorizar a família.
EliminarA mulher trabalhadora - fora de casa - sempre a necessidade ou a vontade a criou.
E quando se fala numa cultura de condicionamento da mulher a ser 'dona de casa' impressiona verificar que sempre se ignore que daí derivava condicionar o homem a ser o 'provedor de farturas' bastantes para sustentar esse estatuto!
Também gosto de ler e ouvir a Susana Peralta. Diz muito do que eu penso.
ResponderEliminarTudo de bom.
Um abraço.
É uma mulher com um pensamento livre e equilibrado, Graça.
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