Quase do nada, o velho que estava ancorado no banco ao pé da minha casa, disse: «Sei que se tivesse estudado, estudado a sério, fazia filmes...»
Ele não me disse aquilo como se estivesse no "muro das lamentações", mesmo que não escondesse que gostava de ter tido as possibilidades que outros tiveram... E antes que lhe fizesse alguma pergunta acrescentou: «Gostava de ter nascido em Lisboa, a Terra das salas de cinema.»
E depois assisti, em poucos minutos, à "história da sua vida"...
Foi a tropa que o trouxe do distrito da Guarda para a Capital. Assim que se apanhou em Lisboa, soube que nunca mais ia regressar para a aldeia onde nasceu. A família? Se tivessem saudades que viessem vê-lo a Lisboa... Foi deixando o tempo passar e esteve quase quatro anos sem pôr os pés na Terra onde nasceu. Casou e só quando foi pai pela primeira vez, é que decidiu que já era tempo de voltar, para mostrar a filha aos pais. A partir daí voltou mais vezes, mas fingia que vivia na América e só aparecia de dois em dois anos, e eram visitas quase mais curtas que as de médico.
Deixou a família e a aldeia para trás, porque o que queria era voltar ao cinema...
Não sabe quantos filmes viu. Sabe apenas que foram muitos, muitos... Ainda hoje, a única coisa que o prende à televisão, são os filmes, até mesmo aqueles que se adivinha o fim logo no princípio...
Quando lhe perguntei se alguma vez teve uma câmara de filmar, disse-me que não. Sorriu e disse, que não foi esse pequeno pormenor que o impediu de fazer "filmes", dentro da sua cabeça, de olhar para as coisas e deliciar-se com o movimento, com a possibilidade de inventar um mundo diferente...
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)
Bom dia
ResponderEliminarEste artigo podia bem ter direito a um filme :
JR
Poder podia, Joaquim, mas passava a ser outra coisa. :)
EliminarE quem não faz filmes? 😀
ResponderEliminarAbraço
Não sei, mas parece-me que há pessoas com pouca imaginação, Rosa. :)
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