Mesmo pessoas que eram olhadas como progressistas a 24 de Abril, que ocupavam cargos com alguma notoriedade, graças à sua competência, acabaram vítimas desta transformação social, a 26 de Abril...
Foi facílimo passar-se de "comunista" a "fascista", em apenas meia-dúzia de dias no nosso País.
Como de costume, quem tinha mais peso mediático, foi quem sofreu mais na pele estas mudanças. As grandes figuras da televisão, da rádio e do espectáculo, foram aquelas que mais sentiram a diferença no tratamento, ao ponto de muitos terem de "fugir" para Espanha ou para o Brasil. Na música e no teatro, houve mesmo quem mudasse de país (para o Brasil...), para continuar a trabalhar...
O fado foi sem qualquer dúvida o género musical que mais foi perseguido durante o PREC, fazer parte da mítica trilogia dos três éfes, "Fátima, Fado e Futebol", não ajudou nada. A sua grande diva, Amália Rodrigues, também foi perseguida (e até "abandonada" e "desprezada" por amigos próximos, estupidamente...). Como se ela tivesse alguma culpa por ter sido usada como "símbolo" da pátria (tal como Eusébio, embora este não fosse vítima de qualquer acto de menorização, provavelmente a sua cor de pele ajudou...)...
Algumas injustiças foram repostas, outras nem por isso. Houve gente que nunca mais teve qualquer oportunidade profissional, para se "levantar", socialmente. Um desses casos foi o excelente fotógrafo, Artur Pastor, cuja obra tem sido popularizada nos últimos anos. Mas existem dezenas de casos, desde o ensino superior ao jornalismo televisivo. Neste último caso, Henrique Mendes foi a excepção que confirmou a regra, tendo sido "recuperado" profissionalmente, alguns anos depois, com o aparecimento das televisões privadas (na SIC)...
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)
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