Foi por isso que me limitei a escutar a história de vida de uma mulher que viveu por lá e que não pensa em voltar. Além de gostar de ser europeia, tem um marido e um novo país, ambos portugueses.
Quando regressava a casa pensei em algumas coisas que escutei e percebi que o que aconteceu no Afeganistão, persegue muitas destas mulheres, que de um momento para o outro podem deixar de ser pessoas e passarem a ser "objectos" telecomandados pelos homens...
Tinha nas mãos um livro que desconhecia, de José Gomes Ferreira, "O Sabor das Trevas". Um romance escrito com a fina ironia do poeta, que nos dava o retrato do portagalito dos anos sessenta, que se debatia com uma coisa que hoje até nos pode fazer rir: o uso de calças por parte das mulheres.
As mulheres conseguiram fintar a questão estética (mesmo as mulheres com mais de noventa quilos que andam pelas ruas de calças de licra e se tornam "mostrengas" aos nossos olhos, não abdicam da liberdade de usarem o que lhes apetece...) em favor do conforto. E ainda bem.
É por isso que transcrevo um curto parágrafo do livro: «Pois eu não me ralo - explodia a gorducha com aquele ênfase vingativo das mulheres feias - Os homens que se encham de paciência e não olhem para mim. Não lhes faltam miúdas giras por essas ruas. Mas lá frio nas pernas é que eu não apanho.»
Quando somos educados num mundo quase normal, custa-nos mais perceber as Alyssaa ou o Mohamedes...
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)
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