Foi a pior crítica e conselho que podiam fazer a um jovem, Ainda por cima veio de um encenador. Porque dizia tudo e não dizia nada. Ficou intrigado e ao mesmo tempo desgostoso. Na época pensou que o que o encenador lhe quis dizer, foi que estava na profissão errada, que nunca iria ser ninguém nos palcos.
A frase acabou por ser determinante para que seguisse o conselho (e a vontade...) dos pais e acabar o cursinho e ter uma vida igual a tantas outras, deixando para trás o sonho da representação.
Finge que não se arrepende da opção tomada, quando vê que muitos dos companheiros com quem se iniciou no teatro também não conseguiram "ser diferentes nem fazer a diferença"...
Mas nos últimos tempos começou a pensar que aquela frase não se referia apenas ao talento, também queria entrar na sexualidade, no que somos e no que desejamos. Recordava-se dos avanços tímidos do encenador, com pequenos toques e olhares quase profundos. Mas ele não era isso. Sabia que era de raparigas que gostava...
O que ele estranhou foi só pensar nisso agora. Nunca antes pensar que o "ser diferente" pudesse estar ligado à sua opção sexual. E até podia não estar. Mas a dúvida estava ali, bem viva...
Quando me contou este episódio, não fui capaz de o ajudar, porque a frase era de facto bastante enigmática. Adiantei que aquelas palavras só deviam ter a ver com o teatro, sem certezas.
Mas mesmo que ele quisesse esclarecer o assunto, já era tarde demais, pois o encenador já não está entre nós...
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)
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