sábado, fevereiro 25, 2023

«Somos uns felizardos. Felizmente, o problema das literaturas nunca foi, nem será, o já se ter dito e escrito quase tudo...»


Quando me encontro com um amigo escritor, é como se me visse ao espelho, mesmo que seja um daqueles "vidrinhos" de "feira popular", de aumentar...

Talvez até finja que tenho os mesmos problemas que ele, só para ser solidário... Talvez.

Mas nós somos o que somos. Mesmo fora dos livros, não consigo fazer da vida um drama diário. Consigo olhar quase sempre para o outro lado da coisa e evitar martirizar-me. Se por qualquer acaso, chover a semana inteira, sei que os rios vão voltar a fazer corridas até à foz e deixa de ser um problema...

São as vantagens de se ser optimista e ligeiramente distraído.

Nunca sei se me está a desafiar a experimentar a separação, quando diz que são os meus filhos e a minha mulher que me toldam a cabeça e afastam dos livros com histórias mais compridas. 

Sorrio. Não digo, mas penso... Talvez os romances não sejam assim tão importantes nas nossas vidas...

Quando disse que o problema maior que a literatura vai enfrentar, é a falta de leitores, sorriu-me e disse um palavrão, daqueles de que nos socorremos diariamente. Sim, ele estava se lixando para as pessoas que liam livros, há muito tempo que sabia que não escrevia para elas, mas sim para si...

Depois disse-me que estávamos a voltar atrás no tempo, no século XIX também era assim, pouca gente sabia ler e contavam-se pelos dedos os leitores...

E eu acrescentei que nessa altura quem escrevia eram pessoas privilegiadas, que não precisavam dos leitores para sobreviverem. Voltou a sorrir e ficou em silêncio alguns segundos, antes de responder.

E depois disse, quase a despropósito: «Somos uns felizardos. Felizmente o problema da literatura nunca foi, nem será, o já se ter dito e escrito quase tudo...»

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


12 comentários:

  1. O sol e as praias distraem muito os portugueses. A leitura não é importante no verão. Depois o hábito ou falta dele ficou enraízado e prolonga-se nas outras estações. : )
    Suponho que os livros continuam a ser bastante caros e a população não tem o hábito de ir ou requisitar livros da biblioteca online.
    As bibliotecas por aqui continuam a ser muito visitadas. Leio por volta de cem livros por ano, todos eles requisitados no formato ebook e áudio. Um meio rápido, eficiente e grátis de ler. : )
    Reconheço que a base da leitura é a vontade, o desejo de ler. Sem interesse pela leitura não há nada a fazer.
    Concodo: «Somos uns felizardos. Felizmente o problema da literatura nunca foi, nem será, o já se ter dito e escrito quase tudo...»

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não lê, ouve! É diferente de ler (não sei se muito se pouco, porque não ouço só leio).
      De qualquer modo parabéns, Catarina, porque100 livros por ano é obra (2 livros por semana).

      Eliminar
    2. Não concordo nada contigo, leio sempre muito no Verão, Catarina. :)

      Eliminar
    3. Seve – desta vez não cometi erro no seu nome! – ouvir livros facilita a “leitura” visto que posso fazer outra tarefa simultâneamente - enquanto conduzo, cozinho, enquanto faço as caminhadas... tudo isso faz com que possa ler muitos livros por ano. É evidente que uns levarão mais tempo a ler devido ao tema que requer toda a nossa atenção.

      Eliminar
    4. Luis, não fui clara. Não me referi a ti nem a pessoas que são leitoras ávidas. Essas, como nós, lêem em qualquer estação. Pela minha experiência do passado e pelo que leio nos blogues - como no teu - parece-me que o hábito pela leitura – de uma maneira geral - não aumentou/melhorou. Nas praias algarvias (e provavelmente noutras de outras províncias 😊 ) vê-se um português ou uma portuguesa aqui e acolá a ler uma revista, um jornal e...mais ao lado... um livro. E se estão atentos aos seus telemóveis... aposto que estão a ler ou as notícias ou bisbilhotices políticas ou de outra ordem.
      Se me disseres que a maior parte das pessoas que estão a ler livros nas praias são portugueses, eu vou acreditar.
      Continuo a ser de opinião de que se os portugueses tivessem o hábito (facilitado e promovido pelas bibliotecas) de ler livros no formato ebook e áudio das bibliotecas, leriam muito mais porque seria um hábito gratuito.
      Em todos os blogues que visito, quando se fala em livros, nunca li que alguém fosse à biblioteca levantar um livro. Falam sempre em comprar ou não comprar. E falam sobre o gosto de ter um livro físico nas mãos, do cheiro das folhas, do virar das páginas... bla bla bla. : ))) Eu sou muito mais pragmática. : )

      Eliminar
    5. Ainda como resposta ao Seve quando diz que eu não leio, oiço. A maior parte dos livros que requisito sāo ebooks, sāo lidos. E alguns sāo eaudiobooks, estes sāo ouvidos. Os excelentes narradores dāo uma maior dimensāo aos livros pela forma como dramatizam as "estórias". :) Já aconteceu - poucas vezes - eu deixar de ouvir

      Eliminar
    6. É curioso o que tu dizes, Catarina, porque o e-book não conseguiu vingar na Europa (não foi só em Portugal...), pelo menos da forma como se popularizou no continente americano (e possivelmente asiático, o Japão não perdoa nestas coisas).

      Nunca me imaginei a "ler" um livro por áudio. Mas é tudo uma questão de hábito e de oportunidade.

      É também curiosa a tua opinião sobre o uso dos livros das bibliotecas. Penso que tens razão. Eu por exemplo, só me tornei "cliente" da biblioteca de Almada durante a pandemia (devo ter requisitado uma média de três livros por mês, quase todos de poesia...). Isso fez com que lesse mais de cinquenta livros por mês, devido à obrigatoriedade de entrar os livros um mês depois. E só o comecei a fazer por ter bastante curiosidade em ler um livro esgotadíssimo, provavelmente se ele estivesse no mercado, comprava-o...

      Este ano decidi deixar de requisitar livros por ter demasiados em casa ainda por ler, mas sei que vou ler menos (deixou de haver a tal "obrogatoriedade"...).

      Eliminar
    7. Duas das grandes vantagens de ler livros digitais é que não tenho de me deslocar à biblioteca e não são pesados. A biblioteca permite-me requisitar o máximo de 30 livros digitais de uma só vez (50 se for em papel) que descarrego nos meus tablets (no telemóvel ou no Kobo) e estes não pesam mais por isso. : )

      Ontem à noite, às 20:33, uma amiga manda-me uma mensagem a dizer que está a ler um livro de Olaf Olafsson (autor islandês), “Touch”, que talvez me interesse. Passados dois minutos, respondo-lhe dizendo que já o tinha no meu tablet (formato ebook). É evidente que se houvesse uma lista de espera para este livro que teria de esperar.

      Tenho uma amiga em Portugal que começou a ler livros digitais no Kindle muito antes que eu. : ) Nessa altura ainda eu ouvia audiolivros no carro em CDs.

      Apenas por curiosidade, o último livro que comprei em papel (uns 2 ou 3 anos antes da pandemia) foi “Sapiens – História Breve da Humanidade” de Yuval Noah Harari. Este é um livro que queria possuir. Os outros livros de leitura mais fácil – alguns romances, livros de espionagem (tipo Daniel Silva) ou policiais (John Grisham, por exemplo), livros de memórias ou biografias, uma vez lidos, ficam lidos. Não há necessidade de os ter em casa a ocupar espaço. As estantes, a escrevaninha e outros espaços menos convencionais já estão cheios. : )

      Para além de todas as razões apontadas, prefiro apoiar as bibliotecas do que as livrarias. As bibliotecas oferecem excelentes programas para a população: inclusão social para os recém-chegados e todos aqueles que necessitam de orientação, finanças, como ter sucesso a nível pessoal e profissional, programas para jovens e tantos outros apoios gratuitos que tantos necessitam.

      Eliminar
    8. É tudo uma questão de hábito, Catarina.

      A verdadeira questão é que nunca fomos um país de leitores. Há muita gente que compra livros e não os lê. Ou são para oferecer ou para colocar na estante... A estatística das vendas sempre foi enganadora...

      Eliminar